Folha de S. Paulo
Derrotar Bolsonaro mais cedo não é
salvação, mas atenua riscos, danos e violência
Se sobrevivemos a 45 meses de governo
contra a vida e contra a lei, por que não 46? Se, apesar do esforço do governo
Bolsonaro de cortar oxigênio cívico e pulmonar, ainda respiramos, e se
o exitoso programa de empobrecimento e embrutecimento não nos matou em 45
meses, por que não deixar a festa da
democracia correr por mais quatro semanas? Que diferença fariam no
nosso futuro esses 28 dias entre 2 e 30 de outubro?
A resposta curta: 1º turno é guerra de
trincheira; eventual 2º turno, na presença do maior programa de delinquência
política na história da democracia brasileira, converte-se em guerra atômica.
Quem afirma que Bolsonaro não tem chance de virada eleitoral, e prefere esperar
o 2º turno para o voto do mal menor, ignora a diferença. Subestima a magnitude
do risco.
A guerra de trincheira produz incidentes graves e mortes. Voto menos livre. A guerra atômica ameaça a possibilidade da eleição e magnifica a incerteza das consequências que o resultado das urnas pode produzir.
Guerra de outro tipo, com outras armas e
outro desfecho. Sua prevenção exigirá concessões ainda mais custosas à
democracia, não bastassem as profundas concessões já feitas pela elite política
(congressual e partidária) e pelo sistema de Justiça (eleitoral e criminal) à
criminalidade serial instalada em todo edifício governamental. E concessões às
Forças Armadas, instituição que o Brasil nunca deixa de premiar pelos serviços
não prestados.
A resposta longa precisaria descrever como
o arsenal de Bolsonaro pode ser utilizado de modo mais agudo e decisivo num
confronto eleitoral entre dois finalistas.
Não teremos apenas novos gritos
para "fuzilar militantes" e mandá-los para a "ponta da
praia". Quem pensa que discurso de ódio é apenas uma fala mal educada,
talvez não tenha tomado consciência da posição de onde escuta. Para o cientista
político distraído em seu gabinete apreciando "instituições
funcionado", podem ser só palavras que se desmancham no ar. Para quem
habita a franja da sociedade brasileira, é apito autorizador para matar.
Teremos também novas ameaças de
desobediência às urnas. "Autocratas sempre começam com palavras",
lembrou Steven Levitsky, um dos grandes estudiosos sobre erosão da democracia
no mundo e autor de "Como as Democracias Morrem". Genocídios também
começam com palavras, diga-se de passagem (perdão por lembrar isso "de
passagem"). Bolsonaro já deu muitos passos para além das palavras.
Outubro é janela de oportunidade para o
impensável acontecer. Não só uma deslealdade ou anomalia no processo, ou novos
disparos de mentiras sem que haja tempo para o contraponto factual. Mas
operações orquestradas, com ou sem coordenação governamental, que fabriquem
pretextos para intervenções de exceção.
Afinal, o número de armas registradas subiu
de 350 mil para mais de 1,3 milhão no período Bolsonaro. Armas que governo e
exército abdicaram de fiscalizar. Temos cidadãos com mais armas do que as
forças de segurança do país. E temos 900 milhões de munições, "cinco tiros
para cada brasileiro", como apontou Carolina Ricardo. Bolsonaro e seu
exército civil fazem amor por telepatia.
Há quem acuse a defesa do voto útil de
"terrorismo eleitoral" e "atentado à democracia". Não é só
arroubo infantil, mas equívoco sobre política. Primeiro, porque seguem
desimpedidos de exercer o direito de votar em qualquer um. Segundo, porque
nenhuma liberdade está isenta de interpelação e responsabilidade. A
interpelação, nesse caso, é apenas moral e política. Não viola direito ou dever
de respeito. Ninguém tem direito à consciência tranquila.
"Sou irresponsável por não votar no
único candidato capaz de encerrar as eleições no primeiro turno?", perguntou
Joel Pinheiro a Levitsky no Roda Viva. "Irresponsável
seria muito forte", disse gentilmente, mas é "arriscado":
"a melhor maneira de proteger a democracia quando Bolsonaro tenta atacar a
legitimidade da eleição e criar uma crise é a vitória massiva da oposição no
primeiro turno."
Quem esperava, após a radical degradação da
democracia brasileira, a emergência de uma eleição redentora, na presença de
candidatos dos sonhos e competitivos, com capacidade de nos salvar e abrir um
futuro luminoso, vai se decepcionar. A decepção, por sinal, é um sentimento
democrático universal.
Voto de sobrevivência não é voto do medo frívolo,
do mal-estar ideológico, do desconforto com o diferente. Não é o voto Regina
Duarte, saudosa de um país viril e truculento, que a reduzia à namoradinha do
Brasil. É voto de quem não quer tomar um tiro de aniversário nem ser espancado
na rua e esfaqueado no bar.
*Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e membro do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade - SBPC
9 comentários:
Você é um , safado , cretino usando sua profissão pra iludir o povo vocês passaram de todos os limites, inventando mentiras e calúnias contra o presidente que luta pela liberdade todos os dias
A ditadura do STF vocês estão de braços dados, apoiando e elogiando o Alexandre de Morais que todos os dias toma medidas autoritárias contra Constituição que ele deveria defender
Traidores e covardes é o que vocês são , jornalistas de esquerda panfletários, estão fazendo campanha escancarada pro Lula ladrão
anti éticos!
É melhor ja ir cholando acéfalo!
A desculpa da derrota do Lula já está começando a ser desenhada pela suas r lideranças.
A narrativa vai ser que a violência impediu que o povo pobre do Lula fosse votar nele
pode chorar neném!
Presidente reeleito!
Os fanáticos da seita do Lulaladrão vão se descabelar
Vai ser choro , chilique e ranger de dentes
Esse doidinho que fica vigiando as colunas desse espaço democrático, vai ser um que vai sair gritando e chamando urubu de meu louro!
Kkkkkk
E quando o papagaio bolsonarista perder as orientações do Gabinete do Ódio, que mentiras vai propagar? Vai inventar as suas próprias?
LULA NO 1o TURNO!
Bolsonaro multiplicou armas, famintos, mentiras... Ninguém foi tão violento e perigoso antes. Quanto mais tempo sonhar com o Poder, maior o risco à Democracia!
Ótima análise do colunista,como sempre,e a alfinetada à Regina Duarte é merecida.
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