Valor Econômico
Eleição em dois turnos é instrumento contra
polarização
Tudo indica que o próximo presidente da
República será Luiz Inácio Silva, do PT. A vitória pode não vir já na votação
do próximo domingo, dia 2, mas dificilmente não será sacramentada no segundo
turno da eleição. Nas últimas duas semanas, o sentimento “todos contra
Bolsonaro” tomou de forma majoritária a classe política e inúmeros formadores
de opinião, entre os quais, críticos contumazes do PT e de Lula.
Nesse ambiente, a campanha pelo chamado
“voto útil” ganhou força, desidratando as intenções de voto de candidatos que
se apresentam como uma “terceira via”, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet
(MDB). A maioria dos votos desses dois candidatos tende a ir para o candidato
do PT no primeiro turno, mas, não se tenha dúvida, uma parte relevante irá para
Bolsonaro.
Ciro tem razão quando se queixa do movimento agressivo pelo voto útil que aliados de Lula têm feito, especialmente nas redes sociais (que este colunista prefere chamar de redes antissociais, uma vez que estas funcionam como instrumento de destruição de reputações, disseminação de notícias falsas, tudo isso protegido, em muitos casos, por um inaceitável anonimato). Constranger eleitores em nome da atual polarização protagonizada por Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) desmoraliza o sistema de votação em dois turnos, é manobra antidemocrática. Como define acertadamente o tema um perfil do Twitter (Ivo Viu ou @IvoViu), não existe voto útil, mas, sim, “candidato inútil”.
Hoje em dia, talvez, não seja comum
encontrar eleitores de classe média, com alto grau de instrução, que ajudaram a
eleger Bolsonaro em 2018 e, agora, queiram votar nele novamente. Mas, antes que
alguém diga que brasileiro, em sua maioria pobre e com baixo grau de
escolaridade, não sabe votar, recordemo-nos de que o atual presidente perdeu
quatro anos atrás em 97% dos municípios da região Nordeste.
Quando parte dos nordestinos mudaram de
opinião e começaram a apoiar Bolsonaro, atribuiu-se o fato ao aumento da
transferência de renda via Auxílio Brasil (antes, Bolsa Família). Nas regiões
Sudeste e Sul, mais desenvolvidas e onde Bolsonaro surfou mais que Gabriel
Medina, a mudança foi vista da seguinte maneira: “Não tem jeito. Esse pessoal
pensa com o estômago”. Como?
Bem, institutos de pesquisa correram para
saber dos beneficiários do Auxílio Brasil se o reajuste os faria votar em
Bolsonaro. A maioria disse que não porque, vejam, a pergunta foi entendida como
algo na linha de “o governo está comprando a sua opinião?”. No fundo, o que a
elite cultural (que vai muito além dos ricos) está questionando neste momento
delicado da história do país é se foi correto permitir, desde 1986, o voto dos
analfabetos. Estes ficaram mais de cem anos sem direito de votar porque, no
segundo reinado, na iminência da abolição da escravidão, a classe política
dominante chegou à seguinte conclusão: “se aos escravos nunca foi permitido
estudar, quando forem livres e puderem votar, perderemos a hegemonia política”.
Ora, se a eleição tem dois turnos e, como
ocorreu na maioria das vezes desde a adoção desse sistema, nenhum candidato
recebeu os votos de metade do eleitorado mais um, isso significa que os
eleitores, no país de maior diversidade étnica e cultural deste planeta,
marcado por enorme desigualdade de renda, optam sempre pelo candidato que mais
representa seus anseios na primeira votação, deixando para o segundo turno a
escolha daquele que melhor se identifica com sua opção original. O sistema é
bom. Em apenas duas oportunidades (1994 e 1998), o incumbente, o então
presidente Fernando Henrique Cardoso, ganhou a eleição no primeiro turno.
A senadora do Mato Grosso do Sul cultivou
bom relacionamento com o atual presidente no início de seu mandato, elogiou-o
em público, disse que se surpreendeu positivamente com o novo governo,
principalmente, com a equipe econômica, e foi contrária à abertura de
investigação contra o senador Flávio Bolsonaro por suposta prática de “rachadinha”.
Interessada desde 2019 em disputar a Presidência, afirmou que receberia de bom
grado apoio em 2022.
Tebet acreditou, como o ex-juiz Sérgio
Moro, na falsa promessa de Bolsonaro de que não disputaria a reeleição em 2018.
Está para surgir em qualquer regime, a mais estável das democracias ou a mais
abominável das ditaduras, político que abra mão de poder. Isso simplesmente não
existe. Para quem duvida dessa máxima, segue uma dica: procure a ex-presidente
Dilma Rousseff (PT) ou o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite
(PSDB). A regra aplica-se, obviamente, aos que têm expectativa de poder.
A candidata do PMDB só se afastou do
bolsonarismo durante a CPI da Covid-19, aberta pelo Senado. Ali, exerceu papel
corajoso, firme, de inarredável defesa da sociedade diante do negacionismo com
que o presidente da República lidou com a mais grave crise sanitária da
história - o vírus contaminou até agora 34,6 milhões de pessoas no Brasil,
tirando a vida de 686 mil; como o país tem apenas 2,7% da população mundial e o
número de vítimas fatais representa 10,5% dos casos no planeta, é razoável
supor que houve negligência no enfrentamento da pandemia.
Apesar disso, há mais duas razões para
possível transferência de intenções de voto de Tebet para Bolsonaro. A trajetória
política da candidata amparou-se em forte oposição ao PT. A candidata apoiou o
impeachment de Dilma e chegou a chamar de “passado nefasto” o período em que o
país foi governado pelo partido (2003-2016). Além disso, Tebet professa
receituário econômico - seu programa foi formulado pela extraordinária Elena
Landau - oposto ao do PT, e seus eleitores sabem disso.
3 comentários:
Não entendi. O artigo não demonstra q "Campanha por “voto útil” é antidemocrática". Isso foi tentado pelo autor?
Por outro lado, a eleição do bozo se deu em 2 turnos e o país está mais polarizado. Então tb não entendi pq "Eleição em dois turnos é instrumento contra polarização".
Os argumentos do colunista não param de pé. Chegam a ser infantis. De alguém que não conhece política e que tem valores democráticos fracos, pra dizer o mínimo.
É,Simone,teu passado te condena,Eduardo Leite,Doria...
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