sábado, 1 de outubro de 2022

Eduardo Affonso - A arte de perder (2)

O Globo

A má notícia é que vai se aproximando a hora de ter de encarar o segundo governo Bolsonaro ou o terceiro governo Lula

Amanhã, 2 de outubro, ao cair da tarde, teremos uma boa e uma má notícia. A boa é que podemos estar chegando à reta final desta corrida maluca pela Presidência. A má é que vai se aproximando a hora de ter de encarar o segundo governo Bolsonaro ou o terceiro governo Lula.

Vejamos pelo lado bom: não tem como Bolsonaro II ser pior que Bolsonaro I — ainda que lhe sobrem vontade e talento para isso. Mas não há indícios de uma Covid-23, que o ajude a dizimar mais uma parte da população. As instituições já estão vacinadas (e com dose de reforço) contra seu autoritarismo e sua compulsão golpista. E haverá oposição — daquele tipo que leva adiante pedidos de impeachment e não aposta no “quanto pior, melhor” para depois ficar com o butim da terra arrasada. Oposição como a que o PT sempre fez quando lhe foi conveniente fazer.

Quanto a Lula III, pode ser sua última oportunidade de não entrar para a História como um Ademar de Barros II, o do “rouba, mas faz”. Lula não tem herdeiros políticos à altura — ele mesmo esterilizou tudo à sua volta para reinar soberano, árvore sob cuja copa nada floresce. É agora ou nunca para deixar um legado inquestionável, que se sobreponha ao mensalão, ao petrolão, à responsabilidade por nos ter impingido Dilma, ao apoio a ditaduras, ao sítio do amigo etc. Para fazer um ajuste de conduta e não mais tirar dos pobres para dar aos empreiteiros, banqueiros, doleiros e cerverós.

No seu discurso de posse, 20 anos atrás, Lula I disse que “enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha”. A quantos brasileiros não faltariam comida, saúde, educação se tivessem sido investidos em programas sociais os bilhões desviados pelo PT... E até hoje ninguém do partido se mostrou envergonhado. Lula I falou em pacto social — e cindiu a sociedade. Falou em combate à corrupção — e produziu uma batelada de escândalos. Falou em derrotar a cultura da impunidade — e ei-lo aí, impune.

Já Bolsonaro, há quatro anos, disse “vamos unir o povo” — e potencializou a desunião; “valorizar a família” —devia estar se referindo à sua própria; “respeitar as religiões” — e demonizou o Estado laico. Falou em “restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica” — e fez, minuciosamente, o contrário.

Amanhã saberemos o que nossa democracia terá de enfrentar — se a investida do que quer colocá-la abaixo ou do que pretende miná-la por dentro. Em qual vice prestar atenção — se no neossocialista Alckmin ou no “cumpridor de ordens” Braga Netto. Se teremos de nos conformar à linguagem neutra ou à chula.

Talvez seja mesmo hora de pedir perdão à Dilma —não pelas críticas, mas por termos duvidado de sua sapiência. Ela cravou, em 2010:

— Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.

Amanhã, independentemente do resultado, sua profecia terá se cumprido.

Resta a esperança de eleger bons governadores, senadores e deputados. E evitar a perda total.

5 comentários:

Anônimo disse...

Poucas vezes li tantas BESTEIRAS quanto nesta coluna! O colunista afirma categoricamente que não tem como um segundo mandato de Bolsonaro ser pior que o primeiro! O genocida já deu mostras de toda sua capacidade de executar maldades e crimes, e do quanto a sociedade foi INCAPAZ de evitar tudo isto! Houve muita resistência, mas o maldito foi protegido por Aras e Lira. Se obtiver um segundo mandato, se fortalecerá ainda mais, e certamente levará adiante seus planos ANTIDEMOCRÁTICOS e seguirá disfarçando suas mentiras e tantos crimes, com a MESMA CUMPLICIDADE de Aras e Lira, que certamente seguirão dando cobertura ao genocida em troca de serem mantidos nos seus postos de comando! Se Bolsonaro já fez tanto mal nos primeiros 4 anos, imaginem o que não fará em mais 4...
Em que mundo vive este colunista? O sujeito ganha pra escrever estas imbecilidades ou paga pra elas serem publicadas?

Anônimo disse...

"não tem como Bolsonaro II ser pior que Bolsonaro I — ainda que lhe sobrem vontade e talento para isso"

Quanta bobagem num único artigo. É lógico q há como bozo II (duplo irc) ser pior do q bozo I (irc).
Isso é desejo do articulista. Nada mais.

Anônimo disse...

"Se teremos de nos conformar à linguagem neutra ou à chula"
Creio q isso prova a parcialidade ou incapacidade do articulista.
Quer o autor dizer q são simétricos ou igualmente ruins a chulo e a neutra?
Um mané diz na TV q uma jornalista quis dar o furo é, pelo autor, comparável a quem diz menine?
Isso sem falar do q está por traz, do contexto, das falas: num, o objetivo é desacreditar um profissional e no outro é chamar a atenção pra milênios de opressão e preconceito.
Seria inacreditável se eu não estivesse lendo.
O nível destes articulistas é ruim demais.

Anônimo disse...

O genocida já desmontou a legislação ambiental, reduziu tremendamente a fiscalização federal, interferiu na Polícia Federal e diversos outros órgãos de controle, nomeou PGR amigo e omisso, indicou 2 ministros do STF que são cúmplices ou muito influenciados por ele, acabou com o Mais Médicos e o Bolsa Família, multiplicou desmatamentos e queimadas por todo o país.
Reeleito, já partirá de toda esta destruição estabelecida, e indicará mais 2 ministros para o STF, passando a estar próximo de ter maioria nesta corte constitucional, e conseguirá mais 4 anos de impunidade para todos os seus crimes, podendo colocar mais documentos e ações dentro do SIGILO DE 100 anos que tenta ocultar parte das suas atrocidades oficiais.
Já multiplicaram as associações de armamentistas e as armas em posse dos violentos bolsonaristas, que poderão se expandir muito mais, agora com todas as facilidades e descontroles implantados com as dezenas de "novas regras" que na verdade desregulamentaram os rígidos controles anteriores pelas forças de segurança. As milícias não foram incomodadas pelo DESgoverno Bolsonaro, que permitirá que elas continuem se fortalecendo e ampliando seu domínio nas periferias miseráveis das grandes cidades.
Os religiosos safados já agiram livremente no DESgoverno Bolsonaro, inclusive indicados pelo próprio genocida, e isto certamente se ampliará muito, diante dos compromissos entre o genocida e certas "religiões" que direcionam o voto dos seus crentes e pagadores de dízimo para o genocida. Esta tão maléfica influência de "religiões" sobre o Executivo e Legislativo, e até sobre o Judiciário pela indicação de "ministro terrivelmente evangélico" para o STF, certamente será muito mais AMPLIADA E PIORADA, ao contrário do que supõe o incompetente colunista!

ADEMAR AMANCIO disse...

Um segundo mandato de Bolsonaro seria bem pior porque,assim,ele mataria de vez a democracia.