domingo, 25 de dezembro de 2022

Lourival Sant’Anna - As vitórias da democracia em 2022

O Estado de S. Paulo.

Depois de anos de ataques e descrença, a democracia colecionou importantes vitórias

Depois de anos de ataques e de crescente descrença quanto à sua vitalidade e eficácia como modelo de governança, a democracia colecionou importantes vitórias em 2022.

Os crimes cometidos a mando de Vladimir Putin na Ucrânia foram um trágico lembrete dos métodos dos ditadores. A inferioridade do autoritarismo como cultura de gestão ficou evidente na batalha.

Putin imaginou que contaria com a mesma indiferença do Ocidente com que contara quando cometeu atrocidades na Chechênia, Geórgia, Síria e na própria Ucrânia. Seu menosprezo pelos ucranianos o fez subestimar a disposição deles de lutar pela liberdade.

A Rússia encolhe econômica e geopoliticamente, privada de mil empresas que se retiraram do país, e que representavam 40% de sua economia, de mercados de energia, 30% do PIB, e de produtos tecnológicos.

Os problemas da China também são responsabilidade de um déspota, Xi Jinping. A ofensiva regulatória contra as empresas de tecnologia para não rivalizarem com o Partido Comunista e a política de covid zero golpearam a economia e a paciência dos chineses. Os protestos levaram ao brusco abandono dos controles e à explosão de casos e mortes.

Muitos candidatos apoiados por Donald Trump não foram eleitos em novembro, por fadiga em face da mentira sobre a fraude eleitoral. A Comissão da Câmara que investigou a invasão do Capitólio entregou ao Departamento de Justiça 845 páginas de evidências, com a denúncia de quatro crimes, que podem levar à prisão e inelegibilidade de Trump.

A teocracia iraniana perdeu a pouca legitimidade, ao massacrar manifestantes que protestam contra a morte de Mahsa Amini e exigem a saída de Ali Khamenei.

MUNDO AFORA.

Boris Johnson foi forçado a deixar o governo britânico, depois de atropelar as leis e instituições. Emmanuel Macron derrotou pela segunda vez Marine Le Pen. Giorgia Meloni, cujo partido tem origem fascista, tornou-se líder de coalizão de extrema direita na Itália, depois de assumir posições moderadas. A Alemanha desbaratou um complô nazi-monarquista, que resultou em 25 prisões.

A Colômbia e o Chile elegeram presidentes de extrema esquerda, Gustavo Petro e Gabriel Boric, mas que adotaram posições moderadas. As Forças Armadas não apoiaram a tentativa de autogolpe de Pedro Castillo no Peru. Os intentos de Jair Bolsonaro de minar os sistemas eleitoral e de Justiça não encontraram eco.

Não é assim em todos os lugares. Andrés Manuel López Obrador segue solapando a democracia mexicana. Capturada pelo ditador Reccep Tayyip Erdogan, a Justiça turca condenou à prisão e inelegibilidade o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglup, rincipal adversário do presidente na disputa eleitoral do ano que vem.

Mas o saldo mundial ainda é muito positivo.

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