Por Gustavo Schmitt / O Globo
Governador gaúcho assumirá a legenda já sob
a expectativa de aliados de que retome a postura antipetista, marca da sigla no
passado, e reconquista a parte da bancada e os governadores que se aliaram ao
ex-presidente
Próximo de assumir o comando do PSDB, o
governador Eduardo Leite já é pressionado por aliados a endurecer o discurso
contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, ao mesmo tempo, afastar a
sigla do bolsonarismo. O gaúcho dever ser eleito na próxima semana como o novo
vice-presidente nacional, mas na prática já deve passar a dar as cartas por
meio de uma comissão provisória.
A formalização como presidente da legenda
deve ocorrer só no fim de maio, quando será feita a convenção nacional tucana.
Na terça-feira desta semana, Bruno Araújo se despediu da presidência do PSDB
numa carta na qual dizia que a sigla precisa "aprender com os erros do
passado".
A referência, de acordo com pessoas próximas, dizia respeito ao abandono do antipetismo pelos tucanos e à crise de identidade da legenda, cuja maior parte da bancada e dos governadores se alinharam a Bolsonaro na última legislatura. Até mesmo Leite defendeu voto no ex-presidente no segundo turno da eleição de 2018. Quatro anos depois, preferiu não revelar sua escolha para não correr o risco de ser punido nas urnas. Acabou reeleito e conseguiu avançar nos votos de eleitores mais alinhados à esquerda e de apoio crítico de petistas.
Nos últimos dias, a guinada no tom
conciliador de Leite diante do governo federal começou com críticas ao que
chamou de "confusão" nas declarações do petista sobre o compromisso
fiscal do governo. Em outra frente, ao estrear como líder tucano em inserções
na TV esta semana, o governador sugere que o PT está ultrapassado para dar
conta de problemas sociais do país e cola os atos golpistas do último dia 8 no
bolsonarismo. Ele ainda foi um dos tucanos que convenceram o governador Eduardo
Riedel (MS) a participar da primeira reunião com Lula após os atos de
vandalismo em Brasília. Riedel, que fez campanha ao lado de Bolsonaro,
resistia.
Tucanos ainda questionam se o governador do
Rio Grande do Sul terá a contundência necessária para entrar na guerra de
narrativas com grupos tão organizados como petistas e bolsonaristas. Avaliam
também que a tentativa de reconexão com o eleitorado conservador passará por
algum tipo de abordagem da agenda de valores, com a discussão de pautas como
aborto e família, o que é visto como um desafio para o gaúcho. Até agora, ele
tem se mostrado liberal no campo dos costumes e costuma defender a bandeira da
diversidade. Ele se declarou gay pela primeira vez em julho de 2021, quando
assumiu o namoro com o médico capixaba Thalis Bolzan. Após ser reeleito, Leite
tomou posse ao lado do namorado.
Estratégia com Nizan Guanaes
Ao analisar o quadro político, tucanos
apostam que o ex-presidente Jair Bolsonaro terá dificuldades de resistir à
ofensiva jurídica após os ataques em Brasília e deixará um vácuo nos campos da
direita e do centro. Lideranças veem uma "janela de oportunidade"
para Leite disputar o espaço do debate nacional com lideranças como os
governadores Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP). Estrategistas da sigla
lembram, no entanto, que o gaúcho não pode repetir a estratégia do
ex-governador João Doria, que se viu rejeitado por combinar o antipetismo com o
rompimento com Bolsonaro. Leite deve enfatizar cada vez mais a defesa da
democracia, mas sem citar e atacar Bolsonaro diretamente.
Questionado sobre como espera conciliar um
contraponto a Lula com a viabilidade de sua gestão no Rio Grande do Sul, onde
os cofres combalidos dependem de parcerias com o governo federal para
investimentos, Leite minimizou as dificuldades. Ele disse que sua missão é
"dar uma cara ao campo político do centro" e afirmou que, "diante
de uma democracia agredida, fará oposição sem criar instabilidades para o
país".
Sobre a perda de conexão do PSDB com o
eleitorado da direita, Leite ainda reconheceu que a sigla precisa de uma nova
estratégia de comunicação para atingir esse eleitorado. Nessa área, um dos
conselheiros do gaúcho é o publicitário Nizan Guanaes, além do seu marqueteiro
Fábio Bernardi, um dos seus aliados mais fiéis e responsável por suas campanhas
vitoriosas. Leite, porém, não revela como tentará romper a polarização:
— Não basta o PSDB querer ser força no
centro dizendo não ser Lula e nem Bolsonaro (...). Precisamos melhorar a
estratégia de comunicação para engajar as pessoas com o centro. Naturalmente,
as posições dos polos mobilizam mais torcidas do que as posições da sensatez e
do equilíbrio.
O comando de Leite também deve trazer
mudanças na esfera partidária tucana. A executiva nacional da sigla deve
renunciar no próximo dia 2. No passado recente, a cúpula do partido era marcada
por uma divisão entre Minas Gerais e São Paulo. Agora, porém, os paulistas
estão enfraquecidos com a saída de Doria da política e a derrota do neotucano
Rodrigo Garcia na eleição ao Palácio dos Bandeirantes.
Os mineiros também. Na última eleição, o ex-deputado Marcus Pestana disputou o governo estadual com o apoio do deputado Aécio Neves e teve o pior desempenho da história do partido naquele estado: menos de 1% dos votos. Diante do encolhimento da sigla, cuja história é marcada por divergências, Leite se viu numa posição de líder quase que inconteste.
2 comentários:
'Sua missão é "dar uma cara"...'
Não é bem isso o que está acostumado a dar, não
Ele apoiou Bolsonaro em 2018,perdeu totalmente a credibilidade.Quanto a sua vida sexual... Dois gays namorando é no mínimo estranho,o nosso tesão,além de ser na frente é por héteros,rs.
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