terça-feira, 11 de julho de 2023

Míriam Leitão - Tombo na inflação e mais boas novas

O Globo

A desinflação é o início de um círculo virtuoso, com redução de juros em agosto e cenários de crescimento do PIB em mais de 2%

A inflação de junho caiu 0,08%, o que reduziu o acumulado em 12 meses para 3,16%%. Há um ano, a inflação acumulada em 12 meses era de 11,89%. A forte desinflação que houve nesse período é apenas uma das boas notícias da conjuntura econômica. As previsões são de que o país crescerá mais do que se imaginava inicialmente e, no começo de agosto, os juros vão começar a cair, sendo que o primeiro corte pode ser de meio ponto. A queda da Selic é natural diante da redução forte da inflação, aliás, ela subiu exatamente para alcançar esse resultado.

Tudo fica mais fácil na economia quando a inflação está sob controle. O começo dessa queda foi artificial, com a retirada de impostos sobre combustíveis fósseis e imposição sobre os estados de redução do ICMS como parte da campanha eleitoral do governo passado. O ministro Fernando Haddad teve que iniciar seus trabalhos na Fazenda tentando corrigir isso em duas frentes. Enfrentou a pressão contra a reoneração, tendo que fazê-la em etapas, e ao mesmo tempo em que negociava uma compensação para os estados.

Haddad precisou afastar temores contra a sua condução da política econômica, que nasceram da precipitação e do prejulgamento, antes mesmo de anunciar qualquer decisão. Ao derrotar com fatos essas análises, ele foi aos poucos ajudando a melhorar as expectativas em relação à trajetória da inflação. Houve outros fatores como a boa safra de alimentos, a queda dos preços das commodities, a melhora do cenário internacional. Mas se ele tivesse errado em suas decisões iniciais certamente o ambiente seria outro.

Em entrevista ao “Valor”, o ex-ministro Joaquim Levy disse que o Banco Safra prevê que os juros chegarão ao final do ano em 11,75%, ou seja, uma queda de dois pontos percentuais nas próximas quatro reuniões do Copom. O cenário dele é de uma inflação ao fim deste ano em 5%, o Focus já está abaixo disso, e de 3,3% no ano que vem. Levy acha que o país cresce 2,2% este ano e 2,5% no ano que vem. Acredita que a queda dos juros vai produzir outras boas notícias, como a renegociação de empréstimos tomados a taxas maiores. “Só no consignado, esse ‘troco’ pode dar em torno de R$ 50 bilhões. Aí uma coisa puxa a outra. Por isso acho que o consumo, no ano que vem, pode crescer entre 2,5% e 3%”. Ele considera que virão também os investimentos.

Se esses cenários de crescimento do PIB, de mais de 2%, se confirmarem será bom para o padrão brasileiro dos últimos anos, mas muito abaixo do que precisa para recuperar o tempo perdido no país com a recessão de 2015-2016, a estagnação, pandemia e o mau governo.

A briga no grupo de WhatsApp da oposição bolsonarista que estourou nos últimos dias é até previsível. O que pode fazer um grupo sem projeto e que errou tanto quando teve a chance de governar? O ex-presidente da extrema direita foi trágico na condução da pandemia, elevando o número de vítimas fatais e foi incompetente também na gestão econômica. A reforma tributária poderia ter sido aprovada na presidência de Rodrigo Maia na Câmara, porque havia se formado o mesmo ambiente a favor que foi construído agora. O que resta ao PL senão ficar brigando no zap?

Agora é hora de o governo estudar bem os próximos passos. Na entrevista à Natuza Nery no podcast “O Assunto”, do G1, Fernando Haddad já fala em apresentar a nova etapa da reforma tributária, a do imposto de renda, antes mesmo de acabar de aprovar a atual. É preciso consolidar os passos dados. Como em qualquer grande projeto aprovado no Congresso, sempre aparecem os “jabutis”. Há risco de que um deles tenha sido essa perigosa abertura para a criação de novo imposto estadual sobre produtos primários e semielaborados. É preciso expurgar esse tipo de truque do texto, e evitar quaisquer outras distorções.

Hoje, o ministro Fernando Haddad se encontra com o senador Rodrigo Pacheco, que já está prometendo que o Senado dará prioridade à reforma no segundo semestre, aumentando o ritmo de tramitação. Isso permitiria em meados do segundo semestre o assunto estar aprovado no Senado. Uma boa notícia.

Outra boa nova do dia é o dado que o IBGE divulgará, em relação à inflação de junho. O IPCA encerrou o primeiro semestre tendo superado o surto inflacionário que levou à disparada de juros entre 2021 e 2022. E desinflação é o começo do círculo virtuoso.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito bom.