O Estado de S. Paulo
Executivo, Legislativo e Judiciário se entendem para que nada mude muito
Lula tem nas mãos uma inédita oportunidade
de moldar a composição de tribunais superiores, dos quais tanto dependem
governantes brasileiros. São as três próximas indicações para o STJ, e a
segunda que fará para o STF (com a aposentadoria da atual presidente Rosa
Weber).
Essas nomeações coincidem com a escolha de um próximo ou a recondução ao cargo do atual procurador-geral da República. Operadores políticos, especialmente no Supremo, consideram que esse conjunto de escolhas tem o potencial de solidificar o que se chama de “harmonia” entre os Poderes, especialmente Executivo e Judiciário.
Dado o peso político do Supremo, é “normal”
que governantes (como Lula) busquem ter maioria lá dentro. Afinal, ministros do
STF detêm superpoderes dentro do Poder, e reagem imediatamente ao noticiário
político. Mas é um processo bem mais complexo do que as aparências do “indico
um amigo” (como acaba de acontecer).
As tratativas são uma via de mão dupla, na
qual o chefe do Executivo tem de levar em conta também os interesses dos
ministros do STF quanto à ocupação de altos postos no Judiciário – afinal,
trata-se de gigantesca instituição com controle de vastas áreas da vida
nacional, mas com dinâmica interna própria.
Nestes sete meses de Lula 3 essa costura
política tem funcionado a contento para as duas partes. Um teste importante
será a escolha do atual/próximo PGR, cuja capacidade de disrupção é conhecida.
Por julgá-lo muito técnico e independente, o partido do presidente não “compra”
o nome (o do atual subprocurador-geral eleitoral) sugerido por pesados “cabos
eleitorais” do STF.
De fato, não é a republicana independência
dos Poderes e seu equilíbrio que se estabelecem no sistema político, mas, sim,
um curioso amálgama que inclui o Legislativo. O governo só pode fazer o que a Câmara
permita, e ela se satisfaz aplicando o orçamento público sem nenhuma orientação
central – mas atendendo a interesses paroquiais de seus integrantes, de
baixíssima representatividade.
Essa “maioria parlamentar sem alma”, na
ácida definição do ex-deputado Roberto Brant, acertou as “moedas do escambo”
com um Executivo que, por sua vez, topa qualquer coisa desde que o núcleo
petista do governo seja preservado. Não existe rigorosa oposição parlamentar, o
que significa vida mansa para Lula enquanto cuidar apenas da manutenção de
rotinas de governo.
Esse é o sistema político ao qual se
integra agora o Judiciário, compondo um conjunto harmônico e integrado. Ele
opera e prolonga a inércia que satisfaz cada um de seus integrantes, que se
suportam mutuamente. A razão de sua existência é apenas a autopreservação.
2 comentários:
Perfeito
Pois é.
Postar um comentário