Folha de S. Paulo
Avanço de inquérito desmonta versões e
expõe ex-presidente a ponto crítico com a PF
Jair
Bolsonaro passou dias em treinamento para explicar à Polícia
Federal sua lucrativa vocação para o ramo
da joalheria. O avanço do inquérito sobre a venda de presentes e as táticas
adotadas pelos investigadores fazem com que os depoimentos do caso sejam
considerados um ponto crítico para o ex-presidente.
A PF vai ouvir nesta quinta (31) oito suspeitos de envolvimento no esquema das joias. Os depoimentos serão tomados ao mesmo tempo. Como ninguém acredita que investigados e advogados não tenham trocado figurinhas, a medida vale pouco para evitar que eles combinem versões e muito para revelar incoerências.
Bolsonaro e aliados já produziram uma
profusão dessas contradições, e aí está o perigo para o ex-presidente. Além de
tornar muitas explicações inverossímeis, o vaivém dificulta o trabalho de quem
tenta esconder detalhes das falcatruas.
Quando o apetite pelas joias foi revelado
pelo jornal O Estado de S. Paulo, em março, o
ex-presidente posou de vítima. "Estou sendo acusado de um presente que
eu não pedi, nem recebi", declarou. Bolsonaro se referiu ao estojo retido
no aeroporto de Guarulhos e omitiu relógios que já haviam sido vendidos.
A certeza da impunidade parece ter
aumentado a desfaçatez. "Nada
foi extraviado, nada sumiu. Nada foi escondido. Ninguém vendeu nada",
disse, semanas depois. Àquela altura, estava em curso a operação para recomprar
o Rolex que viajara em segredo no avião presidencial e fora vendido numa
transação discreta.
Nenhuma explicação resistiu às provas
colhidas pelos policiais. A tendência é que o caminho fique mais estreito com
quebras de sigilo e telefones
apreendidos. Prova disso é que a defesa do ex-presidente passou a dizer
que ele
tinha direito de ficar com as joias e de vendê-las.
É algo que se aproxima de uma confissão e
depende de uma interpretação muito benevolente das leis e das regras
estabelecidas pelo TCU. Resta saber se Bolsonaro estará disposto a testar a
generosidade de investigadores e juízes nesse caso.
Um comentário:
Verdade,há juízes e juízes.
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