sábado, 19 de agosto de 2023

Marcus Pestana* - A Reforma Tributária: mudança necessária (I)

Há muito é demandada, no Brasil, uma reforma tributária que corrija as distorções do sistema tributário nacional e sirva de plataforma para a dinamização da economia brasileira a partir de seus efeitos positivos na produtividade, no emprego, no produto, na competitividade e na eficiência.  Um sistema tributário justo e eficiente é caracterizado por alguns princípios universais, consagrados e consensuais:

Equidade: Atualmente cerca de 45% da carga tributária brasileira se concentra nos impostos sobre consumo, intrinsecamente regressivos, os brasileiros mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos.      

Simplicidade e transparência: A simplicidade é importante para conferir transparência e eficiência. Temos um dos mais complexos sistemas do mundo. Não há transparência, o contribuinte não sabe exatamente quanto paga de impostos.

Elasticidade e estabilidade: Estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), em setembro de 2022, apontou que desde a promulgação da Constituição Federal, em 1988, foram editadas 466.561 normas tributárias.

Baixo custo de conformidade: É grande o peso da manutenção das receitas federal, estaduais e municipais dentro do orçamento público e são elevadíssimos os custos administrativos impostos ao setor privado para o cumprimento de suas obrigações tributárias.

Eficiência e neutralidade: é notório que a grande complexidade da legislação tributária brasileira, fragmentada e sem uniformidade nacional, introduz inúmeras distorções na tributação com repercussões negativas sobre a alocação dos investimentos e a produtividade da economia.

Segurança jurídica: um sistema tributário eficiente deve diminuir o nível de litigância entre contribuintes e fisco. Pesquisa encomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e publicada pelo Instituto Insper, em 2020, apontou que o contencioso tributário no Brasil envolvia recursos, em 2019, equivalentes a R$ 5,44 trilhões, ou seja, a 75% do Produto Interno Bruto (PIB), nível certamente recorde em relação a outros países.

Moderação tributária: A magnitude da carga tributária obedece ao modelo de Estado e à evolução histórica de cada país, sendo derivada do pacto político em torno das definições sobre o papel do Estado, a amplitude de suas ações, seu custo de operação e a forma de seu financiamento. Segundo a OCDE, o Brasil registrou, em 2021, uma carga tributária total de 33,9% do PIB. A OCDE e o Observatório de Política Fiscal do IBRE/Fundação Getúlio Vargas revelam que a carga tributária brasileira é próxima à média dos países da OCDE (34,1%), mas muito superior à média dos países da América Latina e Caribe, (21% do PIB) e dos países emergentes.

Como visto, o sistema tributário brasileiro não atende plenamente a nenhum dos princípios característicos de um sistema tributário simples, justo e eficiente. Fica evidenciada a natureza estratégica e inadiável da reforma tributária em curso no âmbito do Congresso Nacional.

O esforço empreendido, neste momento, concentra-se nas mudanças relativas aos impostos sobre o consumo de bens e serviços, prevendo a simplificação do sistema e a melhoria de suas regras de funcionamento, com a criação de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) dual.

Voltaremos ao assunto detalhando os objetivos e o conteúdo da PEC 45/2019.

*Economista

 

2 comentários:

Daniel disse...

Muito didático este texto, parabéns ao autor e ao blog que o divulga!

EdsonLuiz disse...

■Mascus Pestana seria um nome que eu adoraria ver na presidência. Pena ele não ter lastro eleitoral para tanto.

Os melhores nomes que o Brasil tem ficam na sombra por termos um eleitorado tão desatento (e, como bons políticos que são, expõem ideias consistentes mas que contrariam as porcariadas populistas e venais que o Brasil tem, e acabam sendo xingados e desqualificados pelos jagunços políticos dos populistas).

Mascus Pestana é um destes poucos políticos brasileiros que sabe que política não é ficar "harmonizando" a técnica com interesses eleitorais, mas, sim, a política é para usar a força que tem para fazer prevalecer a boa técnica. E Marcus Pestana domina completamente vários temas de políticas públicas.