O Estado de S. Paulo
Para o presidente, tudo se resume a uma luta de ricos contra pobres
Lula se diz dedicado a duas tarefas
formidáveis, reconstruir o Brasil e mudar a ordem internacional. Em ambas
afirma estar enfrentando de forma efetiva a luta de ricos contra pobres.
Para Lula, países avançados não investem
nos pobres e insistem em cobrar dívidas impagáveis. São sempre os poderosos que
começam guerras e a ONU não pode fazer nada, pois dezenas de países
(presumivelmente “pobres”) não têm voz na instituição que deveria governar o
mundo, de preferência pelo voto.
Mas o mundo não será mais o mesmo agora que os Brics se expandiram, disse Lula. Esse coletivo já é economicamente mais poderoso que o G-7 , nem precisará mais do dólar e vai dar uma sacudida naquele Conselho de Segurança inoperante.
No Brasil os ricos não estavam no Imposto
de Renda nem os pobres no orçamento público. Ricos escapavam da tributação que
penalizava trabalhadores de renda mais baixa. Uma dupla injustiça, segundo
Lula, pois quem faz a economia crescer são apenas os trabalhadores.
Mas essa situação mudou com a MP que taxa
fundos dos super-ricos. Somam-se a isso a política de valorização do mínimo e
regras para contas públicas com ênfase na receita e não em corte de despesas, e
o Brasil está, segundo Lula, diante de efetiva correção da desigualdade.
É óbvio que essa simplificação funciona num
palanque, mas tem escassa utilidade para política externa e políticas públicas.
A visão de Lula da ordem internacional é a de “luta de classes” consolidada
numa “tirania” de poucos sobre muitos, e desconhece o básico da relação de
forças e motivos de ação das potências. Além de atribuir à ONU papel que nunca
teve.
A desigualdade brasileira tem raízes
profundas e se perpetua numa economia fechada, de produtividade estagnada (fora
a da agroindústria, que Lula não entende) e sufocada por um Estado balofo e
ineficiente. Patrimonialismo é o nome do jogo político no qual Lula está
mergulhado, que não permite o tratamento igual a cidadãos, segmentos ou
regiões.
A diferença entre o que Lula enfrentou há
20 anos e as situações às quais se dedica agora é o enorme aumento da
complexidade e gravidade desses desafios. O mundo se divide numa perigosa luta
de contestação da ordem vigente, que deixa o Brasil em posição muito delicada.
No lado doméstico, o Brasil faliu ao tentar
financiar um estado de bem-estar social, e cresce de maneira pífia. Seus
sistemas político e de governo pioraram quanto à eficácia, e a relação entre os
Poderes se desequilibrou.
Lula continua enxergando tudo preso às
visões de 20 anos atrás. Mas com uma grande diferença: hoje ele se acha dono
das verdades absolutas.
2 comentários:
COMO VOCÊ
O cara não vai com a cara do Lula,rs.
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