Folha de S. Paulo
Trabalho sobre terremotos na Itália mostra
como qualidade das instituições e participação da sociedade civil afetam a
reconstrução
Quais os efeitos de longo prazo do desastre no
Rio Grande do Sul? Sempre iluminador, Cesar Zucco me enviou um
belo artigo dos economistas Guglielmo Barone e Sauro Mocetti
que dá o que pensar. O paper se vale de um daqueles experimentos naturais com
que as Parcas às vezes nos presenteiam.
Em 1976, um terremoto atingiu o Friul, no nordeste da Itália. Quatro anos depois, foi a vez do distrito de Irpinia, no sul do país, ser afetado por um sismo comparável. Os efeitos imediatos foram arrasadores em escala local, mas pouco significativos no plano nacional, o que permitiu aos autores criar controles para comparar o desempenho de cada uma das áreas com o que teria acontecido caso não tivessem sofrido os tremores.
A hipótese de Barone e Mocetti é que a
recuperação seria afetada pela qualidade das instituições políticas e o nível
de participação da sociedade civil. Eles mediram isso através de indicadores
como processos por corrupção, comparecimento eleitoral e leitura de jornais.
A devastação inicial costuma ser reduzida ou
até neutralizada pela ajuda financeira. Depois, se tudo funciona direitinho, a
boa alocação dos recursos na reconstrução melhora a infraestrutura, o que leva
a um aumento da produtividade. Se as instituições são ruins e a vigilância é
baixa, o dinheiro vai para a corrupção ou é gasto em projetos que não ampliam o
PIB potencial. Desanimados, moradores podem deixar a região.
Os resultados da dupla são de encher os olhos
de economistas institucionalistas. Vinte anos após o sismo, o PIB per capita do
Friul, que tinha instituições melhores que a média da Itália, apresentava
crescimento de 23% em relação ao controle. Já em Irpinia, de baixa
institucionalidade, houve queda de 12%. Mais surpreendente, os desastres
parecem ter levado a uma melhora dos indicadores institucionais no Friul e a
uma piora em Irpinia.
Os próximos anos dirão se o RS está mais para
Friul ou para Irpinia.
Um comentário:
A ver.
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