Folha de S. Paulo
Pleito municipal perdeu a capacidade de dar o
recado dos eleitores ao país e aos governantes
Em 1976, em pleno regime militar, o deputado
Ulysses Guimarães, o combativo líder do MDB, procurou o Cebrap, centro de
pesquisas paulista dirigido pelo sociólogo Fernando
Henrique Cardoso. Doutor Ulysses, como apreciava ser chamado, queria
que o auxiliassem a fazer uma espécie de cartilha programática para alinhar o
discurso dos candidatos que se aventuravam a disputar Prefeituras e cadeiras
nas Câmaras Municipais pelo partido de oposição ao autoritarismo.
Nas conversas com o grupo de Cebrap disposto a apoiá-lo, ele não exibia otimismo. Estava ciente dos obstáculos criados pela ditadura à livre competição eleitoral. Mas perseverou por ver na disputa pelo voto um meio de ancorar seu partido nos municípios e tornar visível o difuso mal-estar com o autoritarismo. O sistema bipartidário facilitava a tarefa, ao separar simpatizantes da ditadura dos descontentes com o regime.
Com a volta à democracia e o surgimento de um
sistema multipartidário fragmentado, o pleito municipal perdeu a capacidade de
dar o recado dos eleitores ao país e aos governantes. Assim, os resultados das
urnas são de difícil interpretação, dando margem a controvérsias sobre quais
seriam os ganhadores ou os perdedores
A leitura fica mais fácil quando se olha para
as capitais e maiores municípios e quando os partidos são agrupados em três
frondas político-ideológicas: direita, centro e esquerda. Na mais recente
disputa local, em 2020, candidatos das diversas siglas que formam a variada
direita brasileira prevaleceram em 12 capitais, ante nove conquistadas pelos
centristas e cinco pela esquerda.
Utilizando um agregador de pesquisas
eleitorais, o IPESP-Analítica, voltado para o estudo da opinião pública, mostra
que, na disputa de outubro próximo, os candidatos do bloco da direita lideram
as intenções de voto em 73% das capitais e 63% das cidades com mais de 200 mil
eleitores. Já a esquerda é a primeira opção dos prováveis votantes em 15% das
capitais e pouco menos de 23% das grandes cidades. O centro, com o colapso
do PSDB,
encolheu desde a última eleição nos dois tipos de municípios. União Brasil e
PSD são os partidos com maior número de candidatos que lideram as sondagens. O
PL de Bolsonaro vem a seguir.
É claro que a corrida está apenas começando e
que as campanhas podem mudar as preferências dos cidadãos. O que as pesquisas
mostram é algo tão sabido quanto incômodo para os progressistas. A direita é
boa de voto e dominante no andar térreo do edifício político. Vem daí o seu
cacife em outras instâncias nacionais, a começar pelo Congresso – onde ela
reina.
Um comentário:
Na minha cidade o voto não é ideologizado,cultura política é pra poucos.
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