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Não há outro caminho para uma sociedade justa e produtiva
Na semana passada, Recife promoveu a 29ª edição do Festival Cine PE, mantendo a tradição de lançar livros em meio a filmes. Neste ano, além de Imortalidades, de Eduardo Giannetti — pequeno clássico da reflexão humanista —, e Nem 8, nem 80, de Alfredo Bertini, sobre economia e cultura. Houve ainda rico debate em torno de Escola É Escada, outro título editorial. A partir do êxito de quatro jovens — Arthur Covatti, Victor Hill, Renner Lucena e Tabata Amaral — nascidos em famílias de baixa renda média e que antes dos 30 anos chegaram ao mais alto nível de sucesso, deu-se a celebração de evidente progresso. Três são empresários, Tabata é uma liderança política. O livro revela um padrão comum nas trajetórias deles: a subida de seis nítidos degraus.
O primeiro: a consciência familiar de que
educação é o caminho para o futuro — e de que não deve ser privilégio apenas
das famílias abastadas. Diferentemente do padrão comum das famílias pobres
brasileiras, que não enxergam a escola como vetor de ascensão social nem sentem
que seus filhos devem ter direito a um ensino de máxima qualidade, as mães
desses jovens conseguiram vagas em boas escolas. O segundo degrau foi continuar
estudando, sem evasão. O terceiro degrau foi a participação em olimpíadas do conhecimento,
que, como destaca o professor Hélio Barros, oferecem reconhecimento e estímulo
para o jovem estudar e abre caminho para o quarto degrau: bolsas de estudo em
colégios privados de excelência no ensino médio. Graças a isso, chegaram ao
quinto degrau, o ingresso em curso superior de altíssimo nível — dois no ITA,
um no Insper e uma na USP. O salto maior veio do sexto degrau: uma boa
ideia e capacidade empresarial para executá-la. Essas quatro biografias mostram
que a escola é a plataforma essencial para o triunfo.
“Se nossos políticos tivessem oferecido
ensino de qualidade, o Brasil teria abolido o quadro de pobreza”
O volume reafirma o
papel do ensino ao apresentar a história, entre 1995 e 2005, de sete jovens sem
escola, de mesma idade, em Toritama (PE): Rosimar, Janailson, Jailson, Jacques,
Rubinho, Josivan e Taciana. Um deles foi assassinado ainda menino, outro foi
preso, a menina engravidou aos 15 anos. Nenhum permaneceu na “falsa escola”
onde se matriculou, mas não frequentou, não permaneceu, não aprendeu. Não
concluíram a 5ª série do fundamental. Hoje, integram o imenso exército de
analfabetos plenos ou funcionais. Essa história está em reportagem de Monica
Weinberg, publicada em VEJA, e também em um pequeno livro com o título Década Perdida.
Ao analisar as trajetórias dos adolescentes —
os que venceram e os que fracassaram —, ilumina-se a instituição escolar como
acesso a chances reais para cada indivíduo e, em consequência, para o país. Se
nossos políticos tivessem tido a lucidez das mães dos quatro jovens de sucesso,
se tivessem oferecido ensino de qualidade para todos, o Brasil já teria uma
economia de produtividade suficiente para sair da baixa renda média, teria
abolido o quadro de pobreza, eliminado a vergonha da desigualdade, nem precisaria
manter metade de sua população sobrevivendo na penúria graças à proteção de
bolsas assistenciais. A escola é a escada para cada brasileiro e o motor para
formar uma nação rica, decente, pacífica, sustentável, civilizada. Não podemos
abrir mão dessas exigências.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950
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