Letícia Sander e Valdo Cruz
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
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Um dia depois de afirmar que sua saída da liderança do PT era “irrevogável”, o senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou da tribuna da Casa que mudara de ideia para atender a pedido irrecusável do presidente Lula. Em reunião de cinco horas no Alvorada, Mercadante combinou que Lula pediria em carta sua permanência.
A ameaça de saída ocorreu após o arquivamento de todos os processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), medida da qual Mercadante afirmava discordar. Lula pressionou pelo arquivamento.
A manutenção do senador no cargo dá alívio ao governo, evitando o desgaste da escolha de um sucessor.
Na avaliação de integrantes da bancada, o senador petista sai do episódio desgastado e sem autoridade.
Num discurso de 23 minutos lido para cinco colegas, só um petista, Mercadante reconheceu seu isolamento e disse ter “perdido as condições de interlocução política” no Senado, sobretudo com Sarney.
Pelo "amigo Lula", Mercadante revoga o "irrevogável" e não sai
Um dia depois de dizer que deixaria cargo de líder do PT, senador anuncia novo recuo
Berzoini e Dilma agiram para evitar saída de petista, que exigiu manifestação pública do presidente para ancorar mudança de atitude
Um dia depois de afirmar que sua saída da liderança do PT era "irrevogável", o senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou ontem da tribuna da Casa um novo recuo. Para justificar a reviravolta, ele disse que atendeu a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem esteve reunido na véspera por quase cinco horas.
"Mais uma vez, na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação em que eu não tenho como dizer não. Não tenho. Não tenho, como não tive muitas vezes", afirmou ele, num discurso de 23 minutos lido na presença de apenas cinco colegas, dos quais apenas um petista, e de um ex-senador.
O arquivamento de todas as denúncias contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética do Senado com os votos de três petistas provocou um racha na bancada do PT no Senado. Mercadante defendia que pelo menos um dos processos contra o presidente do Senado fosse aberto, mas foi "atropelado" pelo presidente Lula, que pressionou para que tudo fosse arquivado.
Ideli Salvatti (SC) e Delcídio Amaral (MT) reclamaram que o líder do PT os colocou em situação constrangedora. Flávio Arns (PR) deixará o partido. A bancada já havia ficado sem a senadora Marina Silva (AC), que tem pretensões de concorrer à Presidência pelo PV.
A permanência de Mercadante no cargo dá ao governo um certo alívio, evitando turbulências do processo de escolha de um sucessor. Mas, na avaliação de integrantes da bancada, Lula terá de se empenhar para restabelecer as pontes do senador petista na Casa, já que ele sai desgastado do episódio e sem autoridade até entre senadores do seu partido.
No discurso, o próprio Mercadante reconheceu seu isolamento, quando afirmou ter "perdido as condições de interlocução política" no Senado, sobretudo com Sarney. "É evidente, é muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa", disse.
A operação para que o petista permanecesse na liderança teve outros dois atores principais, além de Lula: o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Na longa conversa de quinta-feira à noite, em que Berzoini também estava presente, Mercadante ouviu de Lula que sua saída desestabilizaria ainda mais a Casa, tachada pelo presidente de "a única trincheira da oposição".
Para ficar, o senador deixou claro que precisava de uma manifestação pública do presidente para justificar seu recuo.
Ontem pela manhã, Mercadante recebeu um telefonema de um assessor do Planalto, avisando-o da carta que seria enviada por Lula, e que acabou servindo de âncora para o senador petista justificar sua mudança de atitude.
No texto, Lula diz considerar o petista "imprescindível" para a liderança e afirma que dificuldades e divergências fazem parte da caminhada, "mas são menores que ela". A carta termina com um pedido de Lula para que ele fique no cargo.
Mesmo assim, Mercadante subiu à tribuna visivelmente constrangido e não deu entrevista à imprensa. Falou em frustração e desânimo e repetiu o que vinha dizendo desde o início da crise: que o melhor caminho era a licença de Sarney.
No plenário, ouviu alfinetadas pelo fato de não ter conseguido dizer "não" a Lula, apesar das divergências com o governo ao longo da crise. "Ele vai ser um líder sonâmbulo nesta Casa, porque ele vai ser o líder da aliança com Renan, com Sarney", disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
Marina Silva (AC) disse "respeitar a decisão dele", mas ponderou que a decisão não apaga a crise do partido. "O PT tem uma grave confusão entre partido e governabilidade. E entre governabilidade legítima e a qualquer custo. E isso não é bom para a democracia."
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