terça-feira, 13 de julho de 2010

Caminho da água :: Wilson Figueiredo



DEU NO JORNAL DO BRASIL

Empenhada em deter os efeitos do ato falho cometido ao explicar que rubricou, mas não assinou, a proposta de governo que apresentou à Justiça Eleitoral, a candidata Dilma Rousseff insiste em dizer que as duas formas de assumir responsabilidade por escrito têm peso legal diferente. Mais uma vez, a candidata do PT e Cia desafinou, em São José do Rio Preto, ao defender a variante que, em português corrente, também não passa de pseudônimo de censura à imprensa. Quer trocar o controle social dos meios de comunicação pelo conteúdo público da mídia, que é a maneira pedante de não dizer meios de comunicação.

A rubrica oral de que se vale Dilma destina-se a explicar o imperdoável descuido que a leva a voltar ao ponto de partida como penitência diária. Depois de insistir que apenas rubricou, como se não fosse a mesma coisa, para não se responsabilizar pelo que o petismo lhe atribuiu, Dilma Rousseff tangencia a questão. Se radicalismo tem hora, também deixa de ter quando as circunstâncias pedem mais do que intenções. Lula é o exemplo histórico de que a simulação à esquerda, sem ir fundo, leva a percorrer círculos que apenas geram a ilusão de estar fazendo História sem sair do lugar. O movimento circular leva de volta ao ponto de partida. É, aliás, o problema da esquerda com a democracia, separados por uma desconfiança mútua mais granítica do que o Muro de Berlim. A retificação de Dilma não está à altura da carta aos brasileiros que Lula assinou (ou, vá lá, rubricou) e o elegeu por duas vezes. Assinou e cumpriu direitinho. Não se escondeu na rubrica.

No fundo, dona Dilma não se deu conta de que sofre o assédio corrosivo no ponto mais fraco de uma candidatura que não foi bem encaminhada politicamente. Passou a hora de dizer que nunca foi, não é e não pretende ser de esquerda. É provável que a rubrica de Dilma seja o espasmo tardio da palavra que, em latim, queria significar a tinta vermelha (rubra), e o destaque era para valer. Para a candidata, não se trata de conteúdo social, mas de controle público. Ora essa: público, social, militar, eclesiástico, não mudam a natureza do que se entende como controle. Mídia, em latim ou em português, significa meios (de veicular as informações e opiniões que movem o nosso tempo). O controle é intromissão na liberdade do cidadão. Controle quer dizer ato, efeito ou poder de dirigir e exercer mando sobre pessoas, órgãos e atividades que se desviem das normas.

A ditadura exerceu controle das informações por meio de censura, mas não evitou que elas passassem pelos diversos filtros e chegassem aos cidadãos. Informação e opinião são como a água, que sempre encontra o caminho por onde seguir adiante, com a vantagem especial de não precisarem da lei de gravidade para chegar aonde se destinam.

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