Se a eleição presidencial já estava na agenda, ganhou uma espécie de concretude a partir da divulgação das pesquisas Datafolha e Ibope, com os índices de preferência conferidos a Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB ) e Marina Silva (Rede). As duas pesquisas indicaram que, se a eleição fosse hoje, Dilma se reelegeria em primeiro turno. Quando um candidato surge com tal favoritismo, é natural o raciocínio de que o maior número de candidatos promoverá a pulverização dos votos, favorecendo a ocorrência de segundo turno. Ontem, enquanto Dilma e Campos fingiam muito mal que serão adversários, Aécio Neves, antes de se reunir com os paulistas, saudava os concorrentes: “todas as candidaturas são bem-vindas porque qualificam o debate eleitoral”. A divisão, entretanto, nem sempre favorece a oposição.
Se Dilma tem 58%, como apurou o Datafolha, e a soma das intenções de voto em Aécio (10%), Marina (16%) e Campos (6%) é 32%, não é mesmo impossível que os três juntos consigam crescer ao ponto de derrubá-la para baixo da linha da maioria absoluta (50% mais 1 dos votos válidos). O eleitor ainda está muito “frio” em relação à eleição, que ainda está bem distante no tempo. E quando a campanha começar para valer, como já previu Dilma, todos eles “vão fazer o diabo”. Jogos de retórica e golpes baixo já deram sumiço em vantagens até maiores.
Supondo então que haja um segundo turno, voltemos à pergunta: a pluralidade de candidatos favorecerá a oposição? As eleições recentes nos ensinaram que isso depende da disposição do eleitorado para a ruptura. Quando Lula se elegeu em 2002, derrotando Serra no segundo turno, havia uma grande disposição do eleitorado para romper com os oito anos de governos tucanos. Quando faltava um ano para o pleito de 2006, apostar na reeleição de Lula era bastante temerário. No entanto, ele se reelegeu apesar do mensalão, das tentativas de responsabilizá-lo pelo acidente da TAM e do escândalo dos aloprados. O eleitorado não queria ruptura. Houve um segundo turno com Alckmin, cuja votação acabou encolhendo. Os votos de Cristóvam (PDT) e Heloisa Helena (PSol), ambos egressos do PT, refluiram para Lula. Em 2010, deu-se o mesmo. Impôs-se o segundo turno entre Dilma e Serra, mas os quase 20 milhões de votos de Marina Silva, o fenômeno daquela eleição, refluiram para Dilma.
Em 2014, se não surgir uma quarta candidatura de oposição à coalizão liderada por PT-PMDB, teremos, na prática, o mesmo cenário: um candidato do PSDB pregando efetivamente a ruptura com o modelo petista hegemônico desde 2002 e dois candidatos egressos do governismo. Campos, até agora, não se diferenciou. Disse apenas que “é possível fazer mais”. Mais do mesmo? A agenda de Marina se diferencia pela ênfase na questão ambiental e na sustentabilidade. Mas, se nenhum deles chegar ao segundo turno, e sim Aécio, para onde iriam seus eleitores?
Essas passagens da história recente mostram que a divisão nem sempre soma para a oposição. Mas, mesmo sabendo disso, todos querem — e precisam — acumular forças para 2018. Ou para o momento em que o eleitorado estiver mesmo disposto a impor mudanças no comando do país. Na democracia, não há hegemonia que dure para sempre.
Pelos estados: SC
Com a eleição presidencial antecipada, o jogo eleitoral nos estados também acelerou-se. E como é nos estados que os palanques são montados, testando a solidez das coligações, é hora de prestar atenção ao que neles acontece. Já examinamos o quadro de Pernambuco na semana passada. Vejamos hoje a situação de Santa Catarina. O estado é pequeno, mas nele a presidente Dilma teve 800 mil votos a menos que o tucano Serra no segundo turno de 2010. Essa situação pode se repetir caso ela não consiga ali uma boa solução eleitoral. Aconteceu porque, como recorda o senador Luiz Henrique, ele se elegeu governador em 2002 apoiando Lula. Mas, empossado, o PT recusou-se a participar do governo e passou a lhe fazer oposição na Assembleia Legislativa. Luiz Henrique buscou o apoio do DEM, reelegeu-se em 2006 e, em 2010, apoiou o democrata Raimundo Colombo para sucedê-lo no governo. Juntamente com o ex-senador Jorge Bornhausen, Colombo migrou em 2012 para o PSD.
Luiz Henrique, que já foi do chamado “grupo dos oito” senadores peemedebistas de oposição, aproximou-se de Dilma recentemente, quando ela o convidou para acompanhá-lo na viagem à Rússia. Como governador, ele implantou uma unidade do Balé Bolshoi em seu estado. Na volta, recusou apelos para disputar a presidência do Senado com Renan Calheiros. Agora, está conversando muito com os governistas, especialmente com o petista Jorge Viana, sobre a montagem de um grande palanque pró-Dilma no estado. Como ainda tem mais quatro anos no Senado, não precisa estar na chapa. Propõe uma coligação PSD-PT-PMDB. Colombo disputaria a reeleição e a ministra Ideli seria candidata ao Senado. O PMDB daria o vice. “Essa é a solução ideal e meus companheiros do PT precisam entender isso”, diz Viana. E o PSD também. Se, para estar no jogo, Serra tiver que mudar de partido, pode aportar no PSD.
As crianças e a TV
Quatro ministros do STF já acolheram a ação de inconstitucionalidade apoiada pelas emissoras de televisão comercial que pede o fim da classificação indicativa dos programas, buscando preservar as crianças de conteúdos e mensagens inadequados a cada faixa etária. Perguntei ao ministro Joaquim Barbosa, em um evento, se ele pretende retomar logo esse julgamento. “Não — disse ele —, não pretendo fazer isso tão cedo”. Deu para entender que, se o fizer, a classificação será exterminada pela maioria dos ministros. Os grandes interesses prevalecerão sobre a formação das nossas crianças.
Fonte: Correio Braziliense
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