• Partido e governo optam pelo silêncio antes de decidir forma de rebater críticas; deputados veem ‘mágoa’ em senadora
Ricardo Della Coletta, Célia Froufe, João Domingos e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
A cúpula do PT optou pelo silêncio ontem, mas vai consultar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de definir como se posicionar publicamente diante das críticas feitas pela senadora Marta Suplicy (SP) em entrevista publicada ontem pelo Estado. Para ela, “ou o PT muda ou acaba”.
A ex-ministra e ex-prefeita apontou “desmandos” no governo e no partido como razões para a provável saída da legenda. O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) foi chamado de “inimigo” e o presidente do PT, Rui Falcão, de “traidor”. Ambos não quiseram comentar as declarações de Marta, assim como Lula e o Planalto.
No entanto, as críticas causaram mal estar no PT e desconforto no governo. Pessoas ligadas a Lula disseram que há quatro anos tentam fazer intrigas entre ele e Dilma, e a senadora estaria repetindo essa estratégia. Marta assumiu a defesa do “Volta, Lula”, para que o ex-presidente fosse candidato em 2014.
Vice-presidente do partido, o deputado José Guimarães (CE) disse que o tema será discutido internamente na legenda. “O silêncio é a melhor resposta (por ora)”, afirmou.
Alberto Cantalice, outro vice-presidente, deixou claro o mal-estar causado pelas declarações de Marta. “É uma entrevista muito ruim para o partido. Essas vaidades, colocando os interesses pessoais acima do partido, prejudicam muito. A militância vê isso com muito maus olhos”, considera Cantalice.
“Eu lamento. A Marta teve todas as portas abertas no PT e sempre galgou os cargos que almejou. Ela não deveria ficar chutando dessa forma. Não deveria jogar para cima tudo o que o partido lhe proporcionou”, disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP).
Na entrevista, Marta disse ficar “estarrecida com os desmandos” ao ler o noticiário. “É esse o partido que ajudei a criar?”, questionou. Apesar desses ataques, o PT por ora descarta algum tipo de punição ou mesmo expulsão da senadora, para que ela não saia como “vítima”.
Oposição. Para parlamentares da oposição, a entrevista “reflete o cenário atual” de um “partido em frangalhos”, nas palavras do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). “A casa está caindo literalmente. Nessas horas, aqueles que não tinham coragem de fazer oposição se tornam corajosos e os que só tinham o sentimento do adesismo, da cumplicidade e do fisiologismo se sentem encorajados em abrir dissidência.”
Para o deputado e senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO), as declarações de Marta poderiam ter influenciado o resultado das eleições presidenciais. “Se a entrevista tivesse ocorrido antes das eleições, teria dado uma grande contribuição para o País. Teria força para mudar o rumo das eleições.”
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