sábado, 24 de setembro de 2016

Em nova fase da Acrônimo, PF mira chefe da Casa Civil de Minas

Bela Megale, José Marques – Folha de S, Paulo

BRASÍLIA, BELO HORIZONTE - A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (23) a 9ª fase da Operação Acrônimo. É a terceira fase realizada em duas semanas.

Entre os alvos estão o atual secretário-chefe da Casa Civil do governo de Minas Gerais, Marco Antônio Rezende Teixeira, e o presidente da Prodemge (empresa de tecnologia e informação do governo), Paulo de Moura Ramos. Apesar de haver mandados para que os dois fossem conduzidos à delegacia para prestar depoimento, ambos não estão em Belo Horizonte.

Ramos foi sócio de Teixeira na MOP Consultoria. Os investigadores suspeitam que a empresa tinha o governador Fernando Pimentel (PT) como verdadeiro dono. Além da MOP, a operação também investiga a consultoria OPR em MG, que pertenceu a Pimentel quando se chamava P-21.

Os policiais fizeram busca e apreensão na casa de Teixeira pela manhã, em Belo Horizonte, mas o secretário não estava no local. Segundo assessores, está de férias no exterior com os filhos. Ele faz aniversário nesta sexta.

Já Ramos está no Rio de Janeiro e sua defesa diz que ele antecipará a volta à capital mineira para prestar esclarecimentos à polícia.

Outro alvo, Ramilton Machado, diretor da empresa OAS, cujo sócio é um dos donos, Léo Pinheiro, está preso em Curitiba (PR) no âmbito da Lava Jato. A sede da empreiteira em Brasília (DF) também sofreu buscas.

O diretor a OAS Jorge Fortes também foi levado coercitivamente para ser ouvido.

Segundo relatos de pessoas ligadas à OAS, a PF investiga o fato delatado pelo ex-operador Benedito Oliveira, o Bené, que firmou colaboração com a Justiça. Ele afirmou a investigadores que a empreiteira doou R$ 3 milhões em espécie para a campanha do governador mineiro, Fernando Pimentel, em 2014.

Os valores teriam sido pagos em seis parcelas de R$ 500 mil na sede da MOP, em Belo Horizonte, nas mãos de Otílio Prado, assessor de Pimentel.

Segundo Bené, em contrapartida, Pimentel ajudou a OAS a conseguir um contrato para a construir um gasoduto no Uruguai.

Machado e Fortes, de acordo com Bené, foram os representantes da construtora que negociaram os termos da doação. O delator disse que não sabe qual o destino do dinheiro, já que os pagamentos ocorreram no início de 2013 e ainda não havia despesas de pré-campanha ao governo mineiro.

Em nota a (PGR) Procuradoria-Geral da República afirmou que um dos objetivos desta fase "é investigar indícios do crime de tráfico de influência em transação comercial internacional" praticados pelo governador de Minas Fernando Pimentel.

"A PGR apura se o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, teria recebido vantagem ilícita para intermediar um contrato da empreiteira OAS junto a um país estrangeiro".

Nesta fase não há prisões, somente conduções coercitivas em Minas Gerais e no Distrito Federal.

Histórico
A Operação Acrônimo tem, entre suas principais investigações, um esquema de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais envolvendo gráficas e agências de comunicação da campanha do governador Fernando Pimentel e também pagamento de propinas a ele para conseguir financiamento público de projetos na época em que Pimentel foi ministro do Desenvolvimento.

Pimentel foi denunciado há cerca de quatro meses pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por corrupção e lavagem de dinheiro.

Numa das primeiras fases da operação, em junho do ano passado, a Polícia Federal cumpriu mandado de apreensão no prédio onde fica a sede da OPR, empresa que já pertenceu a Pimentel e atualmente é registrada no nome do filho de seu ex-sócio.

No mesmo edifício, funcionava um escritório político do atual governador, quando ele foi eleito. Nele, a PF apreendeu notas fiscais da MOP.

Teixeira e Ramos também estavam no primeiro escalão da gestão Pimentel na Prefeitura de Belo Horizonte, entre 2001 e 2008. Ambos trabalharam na campanha de Pimentel ao governo em 2014 e depois compuseram a equipe de transição –Teixeira era o coordenador.

Outro lado
Procurada, a empresa OAS não quis se manifestar.

O governo de Minas não tem se manifestado sobre o caso, por entender que a operação não se relaciona com ações da gestão.

O advogado do governador Fernando Pimentel, Eugênio Pacelli, afirmou que a Acrônimo "já se esgotou".

"O que resta é o gosto pelos holofotes, a busca desesperada de provas que não existem e de fatos que as autoridades tiveram notícia desde o ano de 2014", afirmou.

Segundo ele, "não existe nem nova e nem fase na Acrônimo". "O único fato verdadeiro é que a operação agoniza lentamente, diante das inúmeras ilegalidades e abusos praticados desde o seu início", acrescenta.

Os demais alvos ainda não foram localizados pela reportagem.

O advogado de Teixeira e Ramos, José Sad Júnior, afirma que as atividades de consultoria de seus clientes ocorreu quando não ocupavam cargo público, foram regulares e cumpriram todas as exigências legais. "Os serviços contratados foram prestados, as notas fiscais enviadas, emitidas e os respectivos impostos, pagos", afirma.

Segundo Sad Júnior, os dois se apresentarão à Polícia Federal em data e hora a ser marcada pela delegada que conduz o inquérito.

Os demais alvos e Otílio Prado não foram localizados pela reportagem.

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