- Folha de S. Paulo
Risco de privatização da Eletrobras naufragar aumenta com nomeação de Moreira
A mensagem do novo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, não poderia ser mais lúcida e objetiva. “Se não capitalizarmos a Eletrobras, o apagão é inevitável”, disse à Folha em seu primeiro dia à frente da pasta. Sustenta o óbvio: a empresa perdeu capacidade de investir e haverá aumento da demanda por energia caso a retomada do crescimento econômico se materialize com algum vigor.
A insânia que se alojou no Palácio do Planalto com o cerco policial ao presidente e seus amigos não comporta o óbvio. A própria nomeação de Moreira Franco para o ministério e a consequente saída de técnicos que gestaram a privatização da Eletrobras são o suprassumo disso. O ministro ganhou foro especial mais sólido enquanto o governo perdeu voltas na corrida para vender a estatal.
Na Bolsa, as ações da empresa se desvalorizaram bem como analistas de mercado começaram a apostar que a operação não sai neste ano. No Congresso, a tramitação do projeto da desestatização se arrasta na comissão especial com a dispersão da base governista, e o mimo de Michel Temer a Moreira agastou os ânimos, travando ainda mais a articulação.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara e contraparente do ministro, disse que Moreira no cargo prejudica as negociações por não ter boa relação com o Legislativo. Em menos de 24 horas no posto, ele deu provas de que o ataque parental não era infundado. O ministro anunciou a edição imediata de um decreto sobre a privatização, ato que foi lido como um atropelo ao trabalho dos parlamentares. A cavalaria do Palácio do Planalto foi acionada para desfazer a lambança e avisar que a norma presidencial não tem data para sair.
As resistências políticas vão empurrando o calendário da venda —agora prevista para novembro, quando um novo presidente estará eleito e poderá rever planos. Em ato falho, nesta semana, Temer tratou a privatização como possibilidade.
O apagão parece inevitável.
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