- O Globo
Depois de 93 dias na cadeia, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, reassume o cargo hoje. Ele reclama que foi preso antes de ser ouvido sobre as acusações
O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, comemorou o Natal em março. Sua família manteve a árvore montada e adiou a ceia para esperá-lo. Ele voltou para casa ontem à noite, depois de três meses na cadeia.
O pedetista foi preso em dezembro, acusado de chefiar um esquema de corrupção ligado a empresas de ônibus. Como o vice renunciou, a cidade ficou nas mãos do presidente da Câmara dos Vereadores.
O Ministério Público sustenta que o grupo de Neves desviou R$ 10,9 milhões. Ele diz que é inocente e não teve chance de se defender. “Fui preso sem nunca ter sido ouvido. Sou investigado há 11 meses e não acharam nenhuma prova. É uma coisa de maluco”, afirma.
A Promotoria acusa o prefeito de cobrar 20% de pedágio sobre o reembolso de gratuidades previstas em lei. Ele diz que nunca pediu propina e que impôs exigências que contrariaram os empresários.
“Quando assumi, Niterói tinha três tarifas diferentes. Unifiquei pela menor, e hoje a cidade tem a passagem mais barata do Estado. Também exigi que 90% da frota tivesse ar condicionado. Essas medidas reduziram o lucro das empresas”, defende-se.
Na terça-feira, o Tribunal de Justiça revogou a prisão preventiva por seis votos a um. Neves foi afastado e preso antes de virar réu. A denúncia só deve ser examinada em abril, ressalta o advogado Técio Lins e Silva.
Sociólogo, o prefeito diz ter lido 40 livros para passar o tempo no cárcere. A lista incluiu a releitura de clássicos, como “Casa-Grande & Senzala” e “Raízes do Brasil”, e quatro títulos de Nelson Mandela.
Preso numa cela com outros 42 detentos, o pedetista conta que sofreu com o verão de Bangu. À noite, pendurava uma toalha molhada sobre a cama para conseguir pegar no sono. “Saí convencido de que o encarceramento não recupera ninguém”, afirma.
Uma vez por dia, o prefeito tinha direito a banho de sol. “Ficava dando voltas na quadra. Trinta para um lado e trinta para o outro, para não ficar tonto”. Ontem ele sentiu a mesma tontura ao atravessar a Ponte a caminho de casa. “Depois de tanto tempo numa cela, você fica meio desorientado”, explica.
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