quinta-feira, 14 de março de 2019

Matias Spektor: Primeira visita

- Folha de S. Paulo

Visita é a importante aposta de política externa do início de mandato

A visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca é a mais importante aposta de política externa do início de seu mandato.

O Palácio do Planalto insistiu em realizar a viagem no primeiro semestre do ano mesmo quando os americanos sinalizaram que, postergando a viagem alguns meses, a Casa Branca teria melhores condições de entregar concessões.

O compromisso com realizar a visita rápido é intenso a ponto de fazer Bolsonaro arcar com o custo de pular Buenos Aires como destino inicial.

O presidente acredita que, estabelecendo um canal desimpedido com Trump nos Estados Unidos, seu mandato será mais fácil. Por isso, a visita não começa nem se esgota na identidade política que Bolsonaro construiu com Trump durante a campanha.

Bolsonaro privilegia a Casa Branca porque acredita ter condições de obter benefícios para consolidar sua posição junto aos três grupos sobre os quais se equilibra: a bancada religiosa, os militares e o mercado financeiro.

Em seu encontro com Trump e na reunião que terá com uma rede de denominações evangélicas, Bolsonaro operará a conexão entre voto e prece que é marca registrada da direita americana.

Aos militares, Bolsonaro entregará o acordo de Alcântara, o status de aliado extra-OTAN e a promessa de compras no mercado de defesa. Além disso, Bolsonaro conseguirá para o grupo militar um espaço geopolítico inédito na América do Sul, agora que a Venezuela implode a passo acelerado e promete virar um problema de longo prazo para a segurança nacional do Brasil.

Por sua vez, o mercado financeiro obterá nesta viagem um claro impulsionamento: o apoio explícito do governo americano ao programa de reformas econômicas empreendidas por Paulo Guedes.

Na prática, isso serve em dois cenários. Se houver reforma da Previdência parruda, a Casa Branca ajudará a trazer investidores estrangeiros. Se não houver reforma ou se a reforma for pífia, então o apoio do governo americano será essencial para um país que, quebrado, precisará de apoio do Tesouro americano e do Fundo Monetário Internacional para pagar suas contas, rolar a sua dívida e conter a queda de sua moeda.

Trump está disposto a entregar tudo isso não porque se preocupa com o destino político de Bolsonaro, mas porque Venezuela importa muito para ele. E porque se trata de uma operação de baixo custo para ajudar um político que se inspira no presidente americano.

Apenas três coisas podem atrapalhar esses planos: a eclosão de um novo escândalo de corrupção, revelações comprometedoras envolvendo milícias ou a associação do presidente brasileiro ao ex-guru de Trump, Steven Bannon.

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