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O capitão que nada aprende e nada esquece
O Brasil não é para amador, ensinou Tom Jobim. O Maracanã vaia até minuto de silêncio, disse o então governador Chagas Freitas, do Rio, ao presidente americano Jimmy Carter ao levá-lo para conhecer o estádio no início de abril de 1978. A presença dos dois na tribuna de honra não foi percebida pela massa dos torcedores.
A presidente Dilma Rousseff provou na pele a fúria do Maracanã na partida final da Copa do Mundo de 2017 entre a Alemanha e a Argentina. Bastou que sua imagem aparecesse nos telões do estádio para que o mundo viesse abaixo. Ela já fora vaiada na Arena Corinthians, em São Paulo, na abertura do Mundial.
Não foi por falta de avisos, pois, que o presidente Jair Bolsonaro amargou um dos maiores constrangimentos de sua vida. Sabe lá o que é sair do corredor dos vestiários, pôr o primeiro pé no campo e já começar a ouvir vaias? E prosseguir sob vaias até o palanque armado para a cerimônia da entrega da taça ao campeão?
Ali, além das vaias, Bolsonaro ouviu os mesmos insultos gritados pela torcida e que tanto chocaram Dilma. Mesmo assim levantou os braços para agradecer aos poucos aplausos que recebeu. E depois da entrega das medalhas aos jogadores, ainda teve a cara de pau de meter-se entre eles e apoderar-se da taça para ser fotografado.
Àquela altura, era o que de fato lhe interessava – aparecer na foto com a taça na mão e cercado por jogadores felizes. No mundo em que vive, Bolsonaro aprendeu que mais vale uma foto postada nas redes sociais para ser vista e disseminada por seus devotos do que possa a imprensa dizer a respeito do que aconteceu de fato.
Natural que como chefe de Estado fosse obrigação dele assistir ao último jogo da Copa América e participar da cerimônia da entrega de medalhas aos jogadores. Mas era perfeitamente dispensável que transformasse a ocasião em um teste para medir a aprovação do seu governo. Foi ele que anunciou que assim seria. Atirou no próprio pé.
Enquanto permaneceu em um camarote acompanhado por nove ministros, entre eles o ex-juiz Sérgio Moro, da Justiça, abalado pela revelação de suas conversas com procuradores da Lava Jato, Bolsonaro foi bem, obrigado. Convidado para entrar em campo, no que o fez foi o desastre previsível. Moro mandou-se sem ser notado.
Uma coisa é a voz das ruas que se ouve quando chamada por um lado ou pelo outro de um país onde o presidente se comporta como se ainda estivesse em campanha, e de certa forma está. Outra é a voz dos estádios que costuma se manifestar de forma irritada contra autoridades que misturam política com futebol.
Pelo visto, Bolsonaro nada aprendeu desde que tomou posse no cargo, e também nada esqueceu.
Os falcões de Bolsonaro
Raiva, perplexidade e suspeita
Os mais indignados com as vaias que marcaram no Maracanã a entrada em campo do presidente Jair Bolsonaro foram os ministros Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e Paulo Guedes, da Economia, antes conhecido como Posto Ipiranga.
Heleno havia advertido antes Bolsonaro que isso poderia acontecer, mas não imaginou que seria naquela proporção. Guedes acompanhou Bolsonaro até o corredor dos vestiários. Ao som das primeiras vaias, abandonou o estádio e o presidente. Cuspia fogo.
Um dos assessores de Bolsonaro chegou a comentar com outro que o PT poderia estar por trás das vaias. Depois desistiu de repetir o comentário.
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