Sobrou para a carioca, em 2020, fazer campanha para o DEM no 2º turno
Em
um episódio recente do podcast Foro de Teresina, o jornalista José Roberto de
Toledo chamou atenção para a semelhança das estratégias da esquerda no Rio e em
São Paulo. Em nenhum dos dois lugares a esquerda entrou unida no primeiro
turno.
Em
São Paulo, foi ao segundo turno e faz uma bela campanha. No
Rio de Janeiro, ficou fora do segundo turno, mesmo tendo uma boa votação na
soma das candidaturas.
Comparar
os dois casos pode ser um exercício interessante. Quando a
fragmentação da esquerda no primeiro turno é administrável (como em
São Paulo) e quando não é (como no Rio)? A pergunta tem implicações óbvias para
a eleição presidencial de 2022.
Não
há dúvida de que grande parte do sucesso da chapa Boulos/Erundina se deve à
qualidade dos candidatos e da campanha. O ativismo
social de Boulos e a reputação de competência e honestidade de
Erundina são exatamente o que o eleitorado paulistano viu no PT quando lhe deu
a prefeitura por três vezes.
A
campanha foi ágil e inovadora. Todos os partidos de esquerda têm que aprender
alguma coisa com a campanha do PSOL de São Paulo.
Mas
no Rio as campanhas de Benedita da Silva (PT), Marta
Rocha (PDT) e Renata Souza (PSOL) também foram bonitas, cada uma no
seu nicho. A de Boulos foi melhor, mas não acho que o suficiente para explicar
a diferença de desempenho.
Há
uma outra diferença entre as duas eleições que me parece importante para pensar
2022. Nos dois casos, a direita tinha entre os concorrentes um
centro-direitista bem avaliado e uma mediocridade bolsonarista. Mas só a
mediocridade bolsonarista do Rio concorria à reeleição. Crivella tinha a
máquina na mão, Russomanno não.
A
máquina funciona melhor na mão de quem é
bem avaliado, como Bruno Covas, do que na do sujeito
que tem 62% de rejeição e é o pior prefeito da história da cidade,
como Marcelo Crivella. Mas mesmo Crivella conseguiu a chance de ir ao segundo
turno tomar a surra de escangalhar o cabra que se anuncia para semana que vem.
Na
campanha presidencial de 2022, Bolsonaro também concorrerá à reeleição. Se
chegará como favorito depende da gestão da crise de 2021, que vai ser feia. Mas
é mais seguro apostar que em 2022 ter a máquina ainda será uma vantagem, nem
que seja para dar a Bolsonaro o direito de apanhar no segundo turno.
Os
desafiantes de Bolsonaro pela direita e centro-direita
em 2022 —Doria, Huck, Moro etc.— serão
mais parecidos com Eduardo Paes ou com Celso Russomanno? Ainda não sabemos. Vai
depender, inclusive, do quanto a crise de 2021 vai virar o eixo ideológico da
discussão para um lado ou para outro.
Talvez
Bolsonaro desmoralize a direita a ponto de derrubar seus concorrentes
moderados. É mais prudente que a esquerda se prepare para o pior cenário. Se o
cenário em 2022 estiver com mais cara de Rio 2020 do que de São Paulo 2020, a
esquerda vai ter que pensar a sério na possibilidade de fazer o máximo possível
de alianças no primeiro turno.
Não
é realista imaginar uma candidatura única, mas, se houver fragmentação demais,
é bom que todos se conformem com a sorte da esquerda carioca neste ano: fazer
campanha para o DEM no segundo turno. O fato é que a
propaganda de Boulos com Ciro, Lula, Marina e Flávio Dino foram os
segundos de TV aberta que mais emocionaram os progressistas brasileiros em
muito tempo.
*Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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