"As
pessoas de onde eu venho não têm voz e nem vez. Poucos, até hoje, procuraram
saber o que é importante ou o que falta para que elas vivam melhor. No Brasil é
assim, muitos só recebem atenção em época de eleição."
"Falando
nisso, vocês sabem, eu nunca tive um partido político. Para ser sincero, nem me
interesso, porque não preciso de um para saber que é errado faltar energia
elétrica por 22 dias em um estado inteiro. Ou ainda que é um direito básico ter
comida na mesa, saúde, educação e moradia."
"Também
nunca entrei num laboratório. Ainda assim, eu posso dizer a todos que a ciência
é a nossa única saída em todos os momentos. Eu vejo isso no meu dia a dia como
jogador. Meu corpo precisa da ciência e da medicina para que eu possa fazer o
que mais amo."
"Bom,
eu sequer terminei meus estudos. Mas não é necessário um diploma para enxergar
que muita gente é intimidada, encurralada e morta pelo racismo todos os dias no
Brasil. Li numa matéria que 75% da população pobre é preta, e que 76% das
pessoas mortas todos os anos também são pretas. Coincidência? Não precisa ser o
rei da matemática para concluir o óbvio."
"É
por isso que todos os dias agradeço a Deus pela oportunidade e por não ter
virado estatística. O futebol me salvou! É por isso que eu falo, me posiciono e
mostro a minha indignação: pelo mínimo de dignidade e igualdade para todos os
brasileiros que não tiveram a mesma sorte que eu."
*Richarlison,
jogador do time inglês Everton e da seleção brasileira. Na coluna do
Ancelmo Gois | O Globo, 7/12/2020.
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