Não se deve subestimar o apelo eleitoral dessa
agenda: 49% são contra a privatização da Petrobras, 38% são favoráveis , porém,
67% apoiariam a privatização se resultasse na redução do preço dos combustíveis
Em busca da reeleição, o presidente Jair
Bolsonaro acena para o mercado financeiro e aos investidores estrangeiros com
uma radical agenda liberal, na qual a privatização da Eletrobras seria apenas
um passo inicial. As joias da coroa são a venda da Petrobras, a empresa símbolo
do nacionalismo brasileiro, e a entrega da exploração das reservas minerais e
da biodiversidade da floresta ao bilionário Elon Musk — dono das empresas
SpaceX, Tesla e Starlink.
Na sexta-feira, em São Paulo, na companhia
de Bolsonaro e do ministro da Comunicação, Fábio Faria, o articulador de sua
visita, Musk anunciou o lançamento de um programa de internet via satélite que
pretende conectar 19 mil escolas em áreas rurais e promover o monitoramento
ambiental “mais tecnológico” na Amazônia. O empresário sul-africano é aliado do
ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e tem a intenção de comprar o
Twitter, por US$ 44 bilhões (R$ 225 bilhões), seu mais importante negócio em
andamento, “para garantir a liberdade de expressão nas redes sociais”.
Não se deve subestimar o apelo eleitoral dessa agenda para Bolsonaro. Divulgada na sexta-feira, pesquisa Ipespe contratada pela XP Investimentos revelou que 49% dos entrevistados são contra a privatização da Petrobras, 38% são favoráveis e 13% não souberam ou não responderam, porém, 67% apoiariam a privatização se resultasse na redução do preço dos combustíveis. Além disso, a cartada em relação à Amazônia pode matar dois coelhos: neutralizar as pressões internacionais contra o desmatamento da Amazônia e tornar irreversível a exploração econômica da floresta por grandes empresas de tecnologia e biotecnologia.
“Nós vamos mostrar que a Amazônia é
preservada. Lógico que existem os nichos de exploração, de queimada e
desmatamento irregular, mas a chegada dos satélites vai nos ajudar a preservar.
Agora, precisamos, também, desenvolver aquela região, que é riquíssima em
biodiversidade e em riquezas minerais”, disse Bolsonaro. Especialistas
receberam com ressalvas a informação, porque o problema da Amazônia não é o monitoramento,
é a falta de fiscalização e repressão ao garimpo ilegal, à grilagem de terra e
à derrubada da floresta, estimulados pelo liberou geral do governo federal.
Lítio e nióbio
Fabricante de carros elétricos, a
instalação de uma unidade da Tesla na Amazônia é um velho projeto de Musk, que
já estava sendo negociado com o governo estadual. O Brasil tem potencial para
se tornar um dos maiores produtores do lítio, essencial para as atuais baterias
que movem carros elétricos e fazem os aparelhos portáteis funcionarem. A Tesla,
de Musk, é a empresa que mais investe e fatura em carros elétricos. O Brasil
tem a sétima maior reserva de lítio conhecida no mundo: 95 mil toneladas
poderiam ser exploradas imediatamente. Com as reservas não disponíveis,
sobretudo na Amazônia, somam 470 mil toneladas.
Somos o quinto maior produtor mundial de
lítio, 1.900 toneladas/ano, Musk está interessado na exploração do minério por
causa da valorização no mercado: alta de 1.753% no preço da tonelada, entre
2012 (US$ 4,45 mil) e os atuais US$ 78,03 mil, o equivalente a R$ 365,5 mil.
Embora não tenha revelado interesse direto no nióbio, apesar das ofertas
públicas do presidente Bolsonaro, esse mineral também é estratégico para as
empresas de Musk.
As maiores reservas de nióbio estão
localizadas na região denominada Cabeça de Cachorro, em São Gabriel da
Cachoeira (AM), na fronteira com a Venezuela e a Colômbia. Apesar da alta
viabilidade comercial, não podem ser exploradas porque estão em território
indígena e dentro das áreas de proteção ambiental do Parque Nacional do Pico da
Neblina e da Reserva Biológica Estadual do Morro dos Seis Lagos. O total
estimado na reserva é de cerca de 2,9 bilhões de toneladas.
O nióbio é utilizado na industrialização de
produtos que suportem altas e baixas temperaturas, como aviões e foguetes
aeroespaciais. Também é indispensável nas indústrias espacial e nuclear. Várias
ligas de nióbio são desenvolvidas por sua leveza e supercondutividade. Seus
derivados entram na composição de aços de alta resistência, nas tubulações para
transmissão de gás sob alta pressão, petróleo e água. Também é agente
anticorrosivo, resistente aos ácidos mais agressivos.
Cerca de 40% do território da Amazônia está
na área do pré-cambriano, com depósitos minerais de ferro, manganês, cobre,
alumínio, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato, ouro, prata, platina,
paládio. A floresta em pé, porém, é estratégica para combater o aquecimento
global, produzir alimentos e fármacos e sustentar milhares de famílias
ribeirinhas e indígenas, com atividades produtivas locais. Além disso, pode
atrair muitos investimentos destinados à sustentabilidade ambiental e à
economia verde.
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