Folha de S. Paulo
Bolsonaro está usando a máquina pública
como nenhum candidato jamais fez
Curiosamente, o currículo de Jair
Bolsonaro, que inclui o assassinato de centenas de milhares de
brasileiros por asfixia durante a pandemia, a montagem de um orçamento
secreto no valor de vários petrolões, diversas tentativas de se
tornar ditador para roubar para si e para seus filhos encostados, quatro anos
sem aumento real do salário mínimo enquanto o preço da
comida disparava, a concessão de mais poder ao centrão do que ele
jamais teve, a confissão de que entre ele e meninas de 14 anos já "pintou
um clima" e a recente revelação do plano de Paulo Guedes para não aumentar
salários nem aposentadorias, não foi suficiente para tornar o atual presidente
da República o favorito para ganhar as eleições de 2022.
Para reverter esse quadro, Jair está usando a máquina pública como nenhum candidato até hoje jamais fez. Mudou a Constituição três meses antes da eleição para poder gastar mais dinheiro. Distribuiu bilhões adicionais pelo orçamento paralelo. Antecipou o pagamento de auxílios para antes da eleição (afinal, ele quer cortá-los logo depois). Em apenas três dias, liberou R$ 2 bilhões para empréstimos consignados do Auxílio Brasil, para pobres que não terão como pagá-los; e criou um mecanismo de incentivos para mulheres empreendedoras com prazo de inscrição que acaba pouco depois da eleição.
Como a Folha revelou na semana
passada, o plano de Bolsonaro é pagar essa conta ano que vem confiscando o
aumento do salário mínimo e das aposentadorias.
Isso destruiria a popularidade de Bolsonaro
já no próximo semestre? Sem dúvida, mas quem disse que ele pretende concorrer
em outra eleição livre? Seu plano é matar a democracia brasileira nos próximos
anos. Haveria um risco de grande crise social? Claro, mas Bolsonaro é louco por
uma guerra civil que lhe sirva de desculpa para ampliar seus poderes. É
possível que a investigação sobre abuso de poder econômico leve a um pedido de
cassação da chapa de Bolsonaro se ele for eleito? Sim, mas para Jair isso é só
mais uma coisa que pode ser usada como desculpa para o golpe.
Contra a máquina, concorre Lula.
Foi o democrata que sobrou em pé depois da
devastação de Bolsonaro. Os candidatos da
terceira via foram inviabilizados porque Bolsonaro cooptou os
empresários e aliados políticos que poderiam apoiá-los.
Todos os bons candidatos da terceira via,
dessa e de outras eleições, apoiam Lula no segundo turno.
É um pouco assustador o tamanho das tarefas
que a história colocou nas costas de Lula. Em uma democracia estável, estaria
desfrutando de uma aposentadoria tranquila. Mas a janela de renovação da
política brasileira aberta entre 2013 e a Lava Jato foi desperdiçada com
Bolsonaro, que só foi antissistema contra o que o sistema tinha de bom.
O sucesso de Lula em sua vida não foi só
dele. Foi dos que lutaram por uma democracia em que um filho de migrantes
nordestinos pudesse se tornar presidente da República e redistribuir renda,
após passar 20 anos construindo um partido de sindicatos.
Da mesma forma, se Lula vencer domingo que vem, vencerá com toda essa gente. Unidos, vencerão os mesmos adversários de 40 anos atrás: os que, como Jair Bolsonaro, querem tirar dos pobres o direito de votar para que nunca mais tenham que se preocupar com o que os pobres querem.
2 comentários:
O miliciano mentiroso não tem qualquer escrúpulo: vale tudo pra se manter no poder! Mentiras aos milhares, ameaças antidemocráticas a toda hora, uso da máquina pública sempre que necessário, cúmplices violentos e armados!
Disse tudo com poucas palavras.
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