O Estado de S. Paulo
O clima era “de uma vez por todas”. Quem
acompanhou a cerimônia de diplomação da chapa Lula-Alckmin no TSE seguramente
terminou o evento com essa sensação. Alexandre de Moraes, o presidente do
tribunal, balizou todo o seu discurso como se estivesse dizendo “de uma vez por
todas” que todos aqueles que atentam contra as eleições e a democracia pagarão
criminalmente. Diplomado presidente, Lula falou “de uma vez por todas” que o
resultado eleitoral foi claro e deve ser respeitado.
A eleição foi a mais apertada de nossa
história. Jair Bolsonaro teve o melhor resultado que um segundo colocado jamais
registrou. Mas Lula teve mais votos que ele. Lula venceu e Bolsonaro perdeu.
Pronto. A cerimônia da tarde de ontem, um protocolo que normalmente tinha pouca
(ou nenhuma) importância, serviu de marco simbólico relevante nesses tempos
incertos.
Diante de uma parcela de extremistas que bloqueiam rodovias e destroem patrimônio público e privado, o País assistiu no TSE duas falas seguidas que capturaram perfeitamente o tom do momento. Era preciso dizer uma última vez, como quem fala “de uma vez por todas”, que as eleições acabaram. Lula venceu e Bolsonaro perdeu.
A fala do presidente eleito foi a mais
cerimoniosa entre as três das quais ele participou (as anteriores ocorreram em
dezembro de 2002 e dezembro de 2006). Agora, o rito em si da diplomação
importava. Lula se emocionou, mas foi quando falou seriamente que sua mensagem
foi mais clara: o País permanece rachado, mas dezenas de milhões de eleitores
que votaram em Bolsonaro estão dispostos a aceitar o resultado eleitoral. Os
que promovem baderna são minoria. Barulhentos, mas minoritários. Lula sabe
disso. O discurso claramente foi orientado aos que não votaram na chapa da
frente ampla. Bom sinal.
Desde o governo José Sarney que há
democracia plena: todos os adultos, mesmo os analfabetos, podem votar em quem
quiserem. Isso não existia mesmo antes da ditadura militar. Foi simbólico,
portanto, que Sarney lá estivesse acompanhando a cerimônia do TSE.
Alexandre de Moraes foi direto: ao marcar
que o tribunal lutou para “impedir que a desinformação maculasse” as eleições,
ele também cravou que aqueles que espalham notícias falsas e atentam contra a
democracia serão responsabilizados. Ele está certo. Por mais que seja óbvio –
criminosos, afinal, devem pagar por seus crimes – era preciso repetir “de uma
vez por todas”.
*Professor de administração pública e governo na FGV-SP
Um comentário:
Direto no centro da 'táubula de tiro ao árvaro'.
Boa, João Villaverde!
Postar um comentário