O Estado de S. Paulo
Não faltaram fake news sobre políticas públicas logo na primeira semana do novo governo
Os painéis da morte serão formados por
burocratas do Estado. Eles decidirão se os seus parentes merecem viver. Fazem
parte da proposta de Barack Obama para a reforma do sistema de saúde e,
evidentemente, eram uma fake news. Talvez o primeiro caso de impacto de
“desinformação sobre políticas públicas” via redes sociais – prática que o
governo brasileiro quer formalmente combater.
Na semana passada, começou a venda da “farinha de grilo” na União Europeia. Pó com grande quantidade de proteína e baixo impacto ambiental, passou a ser comercializado por apenas uma empresa, talvez visando um nicho de consumidores que tope experimentar a alternativa mais ecológica para substituir proteína animal.
Na Itália, porém, virou um tema polêmico.
Desde a autorização dada pela UE para a novidade, ela foi instrumentalizada
pela extrema direita, gerando até xenofobia. É a destruição das tradições
alimentares, uma imposição de cultura de países asiáticos. A gigante e
centenária Barilla teve de negar: não, não passará a usar insetos na fabricação
de suas massas.
A farinha de grilo é caso recentíssimo de “desinformação
sobre políticas públicas”, pitoresco e quase inofensivo, mas que faz pensar se
a prática tem mesmo como ser combatida. Afinal, qual grupo político aceita
renunciar à possibilidade de causar engajamento explorando os medos de sua base
eleitoral?
Nosso governo criou uma procuradoria, mas
há muitas dúvidas. A oposição pode acionar a procuradoria contra o próprio
governo? Governos estaduais de direita poderão criar suas procuradorias contra
oposições de esquerda?
Discursos falaciosos, mas úteis para
narrativas da ex-oposição, acabaram carregados para dentro do novo governo
federal. Não faltaram fake news sobre políticas públicas logo na primeira
semana do governo: o ministro da Previdência errou factualmente sobre o seu
déficit, o do Trabalho errou sobre o FGTS na reforma trabalhista. Em ambos, as
falsidades eram grosseiras.
Mesmo casos mais prejudiciais de fake news
não são simples de regulamentar, como aqueles que podem gerar comportamentos
danosos para a sociedade (recusa de vacinação, corrida bancária). E se fosse
proibido desinformação quando pode gerar sofrimento e angústia em grupos
vulneráveis? Seria o caso das fake news sobre confisco na aposentadoria de idosos,
usado na campanha de 2022, e sobre fim do Bolsa Família dos miseráveis, usado
na campanha anterior. Estas não vieram da direita.
A “farinha de grilo” é tentadora demais.
Diria até irresistível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário