O Estado de S. Paulo
Presidente da Câmara desconfia de investigações da PF e Centrão quer derrubar Padilha
Diante do julgamento do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível por oito anos, a
avaliação do núcleo duro do governo é a de que o problema do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, agora, tem outro nome. Em busca de votos da direita após
a cassação dos direitos políticos do ex-presidente, dada como certa, a
articulação política do Palácio do Planalto será posta à prova. E o desafio de
Lula, nesse cenário, se chama Arthur Lira (PP-AL).
Líder do Centrão, o presidente da Câmara
anda contrariado por não ter mais o controle da distribuição de emendas
parlamentares. No diagnóstico do grupo de Lira, o ministro das Relações
Institucionais, Alexandre Padilha, é o responsável por travar a liberação de R$
9,9 bilhões que, com o fim do orçamento secreto, foram herdados por
ministérios.
O Centrão passou a trabalhar para derrubar Padilha e se aproximou do chefe da Casa Civil, Rui Costa. Nesse serpentário, nada poderia ser mais simbólico do que a foto postada ontem nas redes sociais, mostrando Padilha, Costa e o líder do governo na Câmara, José Guimarães, sorridentes e com mãos entrelaçadas.
Quem acompanha os movimentos no Planalto
sabe muito bem como é o relacionamento dos três petistas: em público reina a
paz. Nos bastidores, um culpa o outro por derrotas no Congresso. “Vocês vão ter
de acertar isso”, avisou Lula, na reunião ministerial do dia 15. “Se vocês não
resolverem, eu vou ter de resolver.”
Para Padilha, a negociação com o Centrão
deve ser conduzida no varejo, e não no atacado. A estratégia tem o objetivo de
esvaziar o poder de Lira e evitar que ele se fortaleça para eleger seu sucessor
ao comando da Câmara, em 2025.
Apontado como culpado por barrar a
liberação de emendas e cargos, Costa conseguiu virar o jogo a seu favor após se
reunir com Lira, há duas semanas.
O “malvado favorito” da história, para o
Centrão, é Padilha, que indicou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A cadeira
é cobiçada pelo PP, mas Lula não dispensará Nísia. Por enquanto, sai Daniela
Carneiro (Turismo) e entra Celso Sabino, homem da confiança de Lira.
Lula tem dificuldade para demitir. Está nos
seus planos, porém, fazer mudanças na equipe, no segundo semestre. A ideia é
entregar a partidos do Centrão o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), com orçamento de R$ 84,34 bilhões, e a Funasa, a ser recriada.
Apesar desses acenos, Lira não confia no
Planalto. Além disso, culpa o governo por vazamentos de investigações da
Polícia Federal, que chegam cada vez mais perto dele. A pedra no sapato de
Lula, hoje, atende pelo nome de Arthur.
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