terça-feira, 4 de julho de 2023

Andrea Jubé - ‘Ninguém no PT trabalha com a hipótese de Lula não ser candidato em 2026’

Valor Econômico

Declaração de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro não tranquiliza os adversários

A declaração de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tranquiliza os adversários. Meses antes da sentença da Justiça Eleitoral, o ex-mandatário já estava com o pé na estrada, desempenhando o papel de cabo eleitoral de luxo do PL, e priorizando os três Estados que concentram cerca de 40% do eleitorado: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Desde que voltou ao Brasil, em 30 de março, após o sabático nos Estados Unidos, Bolsonaro esteve cinco vezes em São Paulo, três delas ao lado do bem avaliado governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

No começo de maio, foram juntos à Agrishow, em Ribeirão Preto, um reduto do agronegócio bolsonarista. Uma semana depois, o ex-presidente acompanhou Michelle Bolsonaro na posse de Rosana Valle como presidente do PL Mulher na Assembleia Legislativa paulista.

Um mês depois, Bolsonaro e Tarcísio assistiram ao jogo São Paulo x Sport no estádio do Morumbi. No dia seguinte, prestigiaram uma formatura de policiais militares na companhia do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), cuja reeleição PL e Republicanos deverão apoiar. Sem o governador, Bolsonaro foi ao Allianz Parque, no dia 25, assistir a Palmeiras x Botafogo.

No dia 29, Bolsonaro desembarcou no Rio de Janeiro para compromissos políticos. Contudo, cancelou a agenda fluminense para viajar a Belo Horizonte (MG), onde compareceu ao velório do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, titular da pasta na ditadura militar.

No dia 30, desfecho do julgamento do TSE, Bolsonaro estava batendo perna na capital mineira na companhia do deputado estadual Bruno Engler (PL), o mais votado em 2022, e competitivo pré-candidato a prefeito.

Midiático, Engler transmitiu para as redes sociais as imagens de Bolsonaro cortando o cabelo em uma barbearia popular, no bairro Ermelinda, de baixa renda em Belo Horizonte.

Lideranças do PT negam que o partido não esteja se movimentando, enquanto Bolsonaro, mesmo inelegível, tem agenda cheia desde que voltou da Flórida.

“As eleições municipais são um momento de fortalecimento dos partidos”, disse à coluna o secretário de Comunicação Social do PT, deputado Jilmar Tatto. “Em nossa concepção, 2024 será um termômetro para 2026, vamos fortalecer o PT com Lula indo para a reeleição”, afirmou. “Ninguém [no PT] trabalha com a hipótese de Lula não ser candidato em 2026”, ressaltou.

Um dos quadros mais influentes do PT paulista, Tatto reconheceu que o PT tem dificuldades em São Paulo, mas com cenário mais adverso no interior do Estado, já que Lula venceu Bolsonaro na capital.

Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Tatto sustentou que a frente ampla que se formou para eleger Lula em 2022 deve se repetir na capital paulista em 2024, desde que não tenha o Psol na cabeça de chapa.

No segundo turno, Bolsonaro venceu Lula em 547 dos 645 municípios paulistas, com a preferência de 55,2% do eleitorado. Em contrapartida, Lula venceu na capital paulista com 53,5% dos votos. Mais progressista, o eleitor da capital já elegeu três prefeitos do PT: Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad.

Para mostrar que o PT também acionou os motores para a disputa municipal, Tatto lembrou que o partido já instalou o grupo de trabalho eleitoral (GTE), que se reuniu pela primeira vez no mês passado. Tradicionalmente, o colegiado é instalado somente no ano da eleição.

Em São Paulo, o PT já está fazendo reuniões de estratégia eleitoral nas chamadas “regiões macro”, que envolvem grandes cidades, como Ribeirão Preto, e municípios da região do Alto Tietê. “A gente está se mexendo”, ressaltou. “Vamos priorizar os municípios acima de 100 mil habitantes, com televisão, e vamos ouvir nesses locais e nas capitais o que a militância do PT está pensando”, adiantou.

O debate mais acalorado até agora envolve a capital. Tatto defende a reedição da frente ampla que elegeu Lula em torno de um candidato, desde que o Psol não lidere a chapa. Ele ressalta que não se opõe à postulação do deputado Guilherme Boulos (Psol), mas argumenta que para ele se viabilizar como representante dessa frente, teria que deixar a legenda e se filiar ao PT.

Para Tatto, o PT apoiar uma candidatura do Psol para a Prefeitura de São Paulo em 2024 é ir contra a lógica da estratégia eleitoral. O dirigente petista sustenta que o caminho correto nesta conjuntura é buscar o eleitor de centro, e é isso o que os bolsonaristas estão fazendo ao antecipar o apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, do MDB.

“A cidade de São Paulo não elege um bolsonarista-raiz, por isso, o bolsonarismo está fazendo essa inflexão ao centro”, argumentou. “E nós [PT], ao invés de dialogarmos com o eleitor de centro, estamos fazendo uma inflexão ao contrário, à esquerda, porque o Psol representa isso”, complementou.

Tatto insiste que o Psol não atrairá o apoio de lideranças paulistas que se aliaram a Lula, como os vice-governadores Geraldo Alckmin (hoje vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Márcio França (hoje ministro de Portos e Aeroportos), ambos do PSB.

Em abril, o presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, disse ao Valor que o apoio à candidatura de Boulos enfrenta resistências dentro do partido. Em outra frente, o ministro do Trabalho e ex-presidente do diretório paulista, Luiz Marinho, defendeu, também em entrevista ao Valor, que o acordo, avalizado por Lula, de que o PT apoiará a postulação de Boulos na capital paulista, deve ser honrado.

“Enquanto o PT não decidir [sobre a candidatura em São Paulo], não vou me esquivar de fazer esse debate”, reforçou Tatto. Ele adverte que não é preciso pressa. “Muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte, a base do governo Lula ainda está se ajeitando”, concluiu.

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