O Globo
A disputa por cadeiras importantes vagas ou
por serem abertas na capital federal tem lances abaixo da linha da cintura
Brasília respira sucessões. Múltiplas,
imbricadas e com potencial de desarranjar relações e antecipar a mais
importante delas, a presidencial de 2026. Como na série americana “Succession”,
as disputas por vagas importantes em aberto ou por vagar na capital federal têm
lances abaixo da linha da cintura, plantações, fogo amigo e tal grau de
ansiedade que compromete até a estratégia de políticos normalmente conhecidos
pela frieza.
As mais próximas dessas trocas de guarda são no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República (PGR), que podem desencadear, ainda, a vacância de ministérios não menos cobiçados. Aquelas em que os conchavos são mais explícitos e que estão mais adiantadas, no entanto, são as disputas pela presidência da Câmara e do Senado, bem mais de um ano antes do fim dos mandatos de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco.
Justamente porque nenhum dos dois pode se
reeleger, as candidaturas pululam, bem como a movimentação dos partidos pelos
cargos, ambos na linha sucessória da Presidência da República.
Hoje quase mais poderoso que Lula pelo
domínio talvez inédito que exerce sobre a pauta da Câmara, Lira assiste
contrariado ao surgimento de múltiplos candidatos em seu próprio campo
político, com o incentivo nada discreto do Palácio do Planalto, que, se
vislumbrar chance real de vitória, não hesitará em cacifar alguém que seja
menos próximo do atual timoneiro da Casa.
Lira tem predileção pelo líder do União Brasil,
Elmar Nascimento (BA), que desagrada aos demais partidos do Centrão e atiça a
ambição de outra raposa política, Gilberto Kassab, que articula uma operação
casada com a disputa no Senado para aumentar o peso do PSD na lógica partidária
do Congresso.
É nesse cálculo que o principal candidato ao
lugar de Rodrigo Pacheco, Davi Alcolumbre, flerta com opções para deixar o
União Brasil. Ele ensaia ir para o próprio PSD ou para o MDB, se isso diminuir
a resistência desses partidos a sua volta ao comando do Senado.
As semelhanças de estilo entre ele e Lira têm
sido usadas para desgastá-lo, e um antigo conhecedor da presidência da
Casa, Renan
Calheiros (MDB-AL), a quem Alcolumbre derrotou na mais maluca
eleição da história do Senado, tem sido citado nas bolsas de apostas como
candidato em 2024.
No episódio da série destinado à sucessão no
STF, Lula segue fazendo ouvidos moucos aos apelos por uma mulher negra para o
lugar de Rosa Weber, mas a demora na escolha vai fazendo com que os candidatos,
expostos ao sol inclemente, sejam fritados pelos adversários.
Um périplo de alguns dias por gabinetes de
Brasília permite constatar o grau de animosidade intenso em relação ao ministro
da Justiça, Flávio Dino, mesmo por colegas de ministério, que não hesitam em
fustigá-lo e em elencar razões — também sopradas ao pé do ouvido de Lula — por
que a escolha de seu nome seria um erro do presidente.
Não é novidade que disputas eleitorais
comecem no dia seguinte às eleições para qualquer posto com poder. O novo é a simultaneidade
de tantas decisões nesse xadrez que terá consequências inevitáveis sobre o
cenário da próxima eleição presidencial.
É por isso que Lula colocou na cabeça que
quer no STF alguém sobre quem tenha ascendência, e é nas projeções de quem
serão os postulantes mais competitivos que se movem deputados, senadores e
presidentes de partidos.
O presidente depende do sucesso da economia,
da governabilidade que tenta construir dando os anéis enquanto parlamentares
pedem os dedos e do isolamento da extrema direita — outra razão para afagar o
Centrão — para ter maior chance de reeleição. Suas decisões nos postos cuja
indicação lhe cabe e a forma como atuar nas contendas do Congresso, se mais
discreta ou mais enfática, serão cruciais para definir essa equação.
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Fato.
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