Folha de S. Paulo
Programa baseado em receitas e cobiça no
governo e no Congresso ajudam a explicar mudança de meta
Na semana passada, o governo e a Câmara
negociaram uma gambiarra
para liberar um espaço de R$ 15,7 bilhões no Orçamento. Parte do
dinheiro saiu da votação fatiada. Uma parcela engordaria as emendas
parlamentares, outra seria usada para desbloquear a verba de ministérios, e um
naco era reivindicado para aumentar salários de servidores.
As metas de Fernando Haddad para ajustar as contas do governo sobreviveram enquanto o ministro conseguiu sustentar um arranjo caro. Era preciso equilibrar o veto de Lula a um corte amplo de despesas, controlar o apetite de ministros por mais gastos e pagar pedágios constantes à base que ajudava a manter de pé o plano no Congresso.
O custo político desse acerto se tornou alto
demais nos últimos meses. A insistência num modelo de ajuste baseado no aumento
de receitas, alguns erros de cálculo de Haddad e a cobiça permanente de
integrantes do governo e do centrão ajudam a explicar a decisão do
ministro de rever a trajetória fiscal, adiando o aperto das contas
do governo.
Lula nunca autorizou um ajuste à base de
tesouradas. Até aí, o ranger de dentes em quase todos os cantos do mercado
financeiro era previsível. Mesmo assim, Haddad se pendurou numa meta
considerada ousada para segurar as contas, a partir de um quebra-cabeças de
medidas que lhe dariam algum conforto pelo lado da arrecadação.
Cada centavo que pingava no cofre do ministro
ressoava no restante da Esplanada e nos gabinetes parlamentares. O som passou a
ecoar mais alto no início de um ano com eleições municipais, ameaças de greve
no governo federal, popularidade presidencial aos soluços e um Congresso
disposto a cobrar sua fatura.
Haddad decidiu afrouxar a meta por puro
realismo, é verdade, mas também porque essa seria a única maneira de manter
controle sobre o que entra e o que sai daquele cofre. Para azar do ministro,
seus colegas no governo e no Congresso já conseguem ouvir o tilintar que os
novos números podem proporcionar.
Um comentário:
Coitado do Haddad.
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