Correio Braziliense
O caminho da paz não é a limpeza étnica em
Gaza e o apartheid na Cisjordânia, continua sendo a solução de dois Estados:
Palestina e o Israel
Israel é um Estado como outro qualquer, estabelecido e reconhecido internacionalmente. Por isso mesmo, o mau comportamento de Benjamin Netanyahu, seu primeiro-ministro acusado de genocídio, não deslegitima sua existência, como também o comportamento de governantes desse naipe não deslegitimaria a existência de seus países, como a Coreia do Norte. Entretanto, quando Netanyahu viola o direito internacional, Israel deve ser cobrado por isso. Um dia, seus governantes acabarão punidos, internacionalmente e pelos próprios israelenses. Vamos ser claros: o que está acontecendo em Gaza, com a desmedida retaliação aos ataques do Hamas, é crime de guerra, desrespeito aos direitos humanos e limpeza étnica.
Essa constatação não tem nada de
antissionista nem de antissemitismo, não é fruto de ódio aos judeus. A maioria
das críticas às ações de Israel são fundamentadas nos fatos brutais que estão
ocorrendo em Gaza. Tão incorreto quanto comparar o Estado de Israel ao Hamas é
justificar a escala brutal dos ataques indiscriminados aos palestinos com a
covarde ação terrorista de 7 de outubro. As diferenças se tornaram abissais. As
críticas a Netanyahu partem dos governos que se opõem à barbárie em Gaza, não
são motivadas pelo antissemitismo nem contrárias à existência de Israel. O
direito dos judeus a um “Estado normal” não justificará, jamais, uma “política
anormal” em relação aos palestinos.
O Holocausto não pode ser uma desculpa para o
comportamento lastimável do governo israelense. Até que ponto o que está
acontecendo em Gaza é muito diferente do que aconteceu no Gueto de Varsóvia
durante a ocupação nazista? Não creio que essa questão não passe pela cabeça da
oposição a Netanyahu. São oito meses de sofrimento, fome e catástrofe
humanitária. O recente ataque a um campo de refugiados criado pelo próprio
exército israelense, que matou 45 civis inocentes, a maioria mulheres e
crianças, não foi um erro trágico, foi uma ação militar planejada, cujo
objetivo era matar líderes do Hamas sem que se levasse em conta efeitos
colaterais. Isso tem se repetido com frequência. Os fins justificam os meios,
essa é a regra do jogo.
Netanyahu trabalha deliberadamente para
impedir um cessar-fogo, as exigências do Hamas não justificam esse
procedimento. Há um amplo conjunto de decisões de organismos internacionais,
inclusive do Conselho de Segurança da ONU, que propõem um cessar-fogo. “Aqueles
que dizem que não estão preparados para enfrentar a pressão levantam a bandeira
da derrota. Não levantarei tal bandeira, continuarei lutando até que a bandeira
da vitória seja hasteada”, disse Netanyahu.
Mas de que adiantará uma vitória de Pirro? A
maioria dos países do Ocidente já reconhece o Estado Palestino. Os Estados
Unidos e o Reino Unido ainda não, porque Israel é uma peça-chave da aliança
militar anglo-saxônica, mas tudo tem um limite. Israel é o Ocidente no coração
do Oriente Médio não por causa do seu poder militar, mas porque é uma
democracia e defende seus valores, ou melhor, é porque deveria fazê-lo. A
ironia de tudo isso é que Israel não está se tornando um Estado mais forte,
outros países como o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia, hoje, são mais
importantes para a estabilidade política no mundo árabe, mesmo levando em conta
a política de “quanto pior, melhor” do Irã.
Pária internacional
Na prática, Netanyahu transformou Israel num
fator de instabilidade. Mas não deveria subestimar o mandado de prisão do
promotor do Tribunal Penal Internacional, Karin Khan. A morte de dois
importantes líderes do Hamas, Khaled Nagar e Yassin Rabia, como justificativa
para morte de mulheres e crianças, não vai garantir um habeas corpus de duas
Cortes internacionais. Quando deixar o poder, Netanyahu corre o risco de acabar
seus dias na cadeia. Ao ignorar a decisão da Corte que mandou suspender as
ações em Rafah, tomadas exatamente para impedir esse tipo de “erro trágico”,
prevaricou de forma imperdoável para os integrantes da Corte.
Netanyahu transformou Israel num pária
internacional, será longo o caminho para reconstruir a sua imagem. O país se
tornou prisioneiro da extrema direita e do seu complexo militar industrial. Joe
Biden, Emmanuel Macron, Rishi Sunak e Olaf Scholz, os líderes de Estados
Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, estão cada vez mais distantes de
Israel. Eram aliados de primeira hora.
A guerra civil na Irlanda do Norte chegou ao
fim quando um presidente norte-americano pressionou os emigrantes irlandeses
nos Estados Unidos a deixarem de mandar armas e dinheiro para o Irã Provisório.
A economia da África do Sul entrou em colapso quando a Doutrina Sullivan
obrigou as empresas norte-americana a saírem de lá por causa do apartheid. Sem
eleições, por causa da guerra, a oposição a Netanyahu em Israel não tem como
barrar sua insanidade e chegar a um acordo de paz. Mas Biden tem esse poder, se
deixar de fornecer armas e recursos para Israel, até que se chegue a um acordo
de paz. Isso significa entregar os judeus de bandeja para os seus inimigos,
como o Hamas e o Irã? Claro que não! O caminho da paz não é a limpeza étnica em
Gaza e o apartheid na Cisjordânia, continua sendo a solução de dois estados: a
Palestina e Israel.
2 comentários:
O colunista errou no seu título: NEM os EUA seguram o sanguinário comandante de Israel! Os EUA declararam desde o início dos ataques israelenses que apoiavam INCONDICIONALMENTE o massacre dos civis palestinos, tanto que fornecem armas, aviões, foguetes, bombas e munições para os militares israelenses despejarem sobre as residências e barracas dos palestinos. Nem campos de refugiados, hospitais, escolas, prédios da ONU foram poupados. Os EUA são cúmplices de Netanyahu e seu governo CRIMINOSO desde 8 de outubro de 2023. Protegem o governo israelense na ONU contra qualquer proposta, como a feita pelo Brasil quando comandava o Conselho de Segurança, que desagrade o genocida israelense. Netanyahu e Bolsonaro são GENOCIDAS por motivos diferentes, mas se irmanam na MALDADE e CRIMINALIDADE patológica!
Os Estados Unidos,tarde demais,estão pulando fora.
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