sábado, 10 de agosto de 2024

Carlos Alberto Sardenberg - Uma praia para Maduro?

O Globo

Ditador só largará o osso se perceber que ficará tão isolado a ponto de isso inviabilizar seu regime. Ou se notar que corre o risco de ser traído

Da revista The Economist: “O mundo tem uma última coisa a oferecer: uma saída segura para Maduro e seus camaradas mais próximos, proporcionando-lhes uma vida confortável numa praia brasileira ou caribenha, possivelmente com imunidade a processos judiciais. Isso revoltaria aqueles que querem ver Maduro enfrentar a Justiça em Haia. Mas é um preço que vale a pena pagar para evitar derramamento de sangue e começar a reconstruir a Venezuela”.

A sugestão aparece em texto desta semana. É uma saída, mas, claro, exige um tremendo arranjo diplomático. Brasil, México e Colômbia, que já se candidataram ao papel de mediadores, poderiam trabalhar nisso.

Exige também uma forte pressão sobre Maduro — e aqui reside a questão central: o governo Lula teria disposição, primeiro, e condições, depois, de exercer essa pressão?

E por falar nisso, como se pratica esse tipo de pressão?

No mundo de antigamente, a ameaça militar estaria na mesa. Melhor dizendo, ameaça de golpe interno, mas promovido, apoiado e financiado de fora. Já aconteceu tantas vezes na América Latina, não é mesmo? 

Ninguém topa isso no Ocidente de hoje. Ainda bem.

Sobra, portanto, a pressão econômica, que já tem sido praticada, mas moderadamente. Primeiro, porque muitos países, incluindo os Estados Unidos, precisam do petróleo venezuelano. E segundo porque um boicote total — cortando investimentos, financiamentos, toda exportação de bens para o país e a importação de seu petróleo — imporia um enorme sacrifício a uma população já sofrida e que já se manifestou contra Maduro.

A Venezuela de hoje tem apoio de Rússia e China, que já substituem em parte o que é negado, por exemplo, por Estados Unidos e União Europeia. Trata-se, porém, de um quebra-galho. Pela distância em relação às potências amigas e pela menor capacidade econômica destas.

Por outro lado, a Venezuela mantém, sem problemas, comércio e negócios com Brasil, Colômbia, México e outros vizinhos desta região. Em tese, a situação daria algum poder de persuasão a esses países.

O Brasil de Lula, por exemplo, sempre se opôs às pressões econômicos e sempre defendeu Chávez e Maduro. E se o governo brasileiro dissesse agora que estava retirando esse apoio, isso numa articulação com os demais países latino-americanos?

O ponto é o seguinte: Maduro só largará o osso se perceber que ficará tão isolado a ponto de isso inviabilizar seu regime e, pois, sua roubalheira. Ou se perceber que corre o risco de ser traído pelos seus camaradas, também estes temendo o isolamento internacional.

Lula toparia aplicar essa pressão? E oferecer um doce asilo para Maduro, com imunidades?

Do outro lado, Maduro se curvaria a essa pressão?

Difícil. Difíceis as duas coisas.

Maduro não respeita Lula, assim como o então amigo Daniel Ortega, da Nicarágua, não deu a menor bola a um pedido simples do presidente brasileiro.

Foi em junho do ano passado. Atendendo a uma solicitação do Papa Francisco, Lula anunciou que pediria pessoalmente a Ortega a libertação do bispo Rolando Álvarez, detido em Manágua. A seu estilo, Lula comentou que não fazia sentido impedir o bispo de exercer sua missão religiosa e ainda acrescentou que Ortega deveria “ter coragem” de reconhecer seu erro.

Ortega nem atendeu a ligação de Lula.

Por que Maduro se curvaria a uma pressão brasileira?

Eis o ponto: Lula hoje não lidera nada. Nem na América Latina, nem no Mercosul, nem no Brics. Biden falou com o presidente brasileiro, na expectativa de encaminhar alguma medida concreta sobre a Venezuela. Desistiu logo.

Ditadores de esquerda ou similares gostam do apoio de Lula e do PT, mas não dão nada em troca. Nem sequer um favor.

Tudo considerado, ficamos assim: Maduro só deixará o poder se for forçado a isso por uma forte e coordenada pressão internacional. Ou se seus camaradas militares entenderem que é melhor entregar Maduro e salvar sua parte do butim.

Nessas circunstâncias, caberia a sugestão da Economist.

Lula pode participar dessa articulação ou tentar salvar Maduro.

O mais triste dessa história é que, enquanto isso, a Venezuela está a um passo do banho de sangue e sua população sob a ameaça de uma ditadura ainda mais violenta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Com a guerra da Ucrânia contra o invasor russo a escalada levou ao envolvimento da OTAN Que está concentrando tropas nos países vizinhos a Rússia
A Rússia por sua vez ameaçou instalar mísseis na Venezuela e em Cuba Daí agora a coisa passou a ser uma briga de cachorro grande para os Estados Unidos uma questão de segurança nacional extrema e agora com eleição dando vitória à oposição Está dada a deixa para retirada do poder o maduro, e fazer a transição democrática para o opositor Edmundo
Os Estados Unidos já deslocaram navios de guerra para costa da Venezuela há uma pressão da União europeia não há mais como Maduro ficar no poder depois das ameaças da Rússia e transformar-se a Venezuela numa base de lançamento de mísseis contra os Estados Unidos
Nessa briga de cachorro grande o Lula é cãozinho pinscher zero, velho e fraco

ADEMAR AMANCIO disse...

O banho de sangue já está acontecendo.