Folha de S. Paulo
São múltiplos os fatores que poderão
restaurar um equilíbrio de presidente forte
Como analisei em detalhes aqui, as patologias que os defensores do semipresidencialismo
identificam no nosso sistema político são:
1. crises de governabilidade quando presidentes perdem sustentação parlamentar;
2. ascensão de outsiders sem base partidária;
3. ingovernabilidade devido à irresponsabilidade fiscal legislativa;
4. perda de racionalidade das políticas públicas em virtude do neolocalismo
legislativo; e
5. malaise política que resulta de acordos não
programáticos.
Na variante premier-presidencial do semipresidencialismo há conflito
caso presidente e primeiro-ministro sejam de partidos diferentes. Presidentes
minoritários terão que se resignar a escolher o primeiro-ministro indicado pela
maioria (coabitação). O semipresidencialismo seria remédio eficiente para a
situação 1. acima, em que o presidente perde apoio do Legislativo, mas tem
mandato fixo.
A coabitação se assemelha ao presidencialismo
de coalizão, e produz crises de baixa intensidade. Sim, a crise neste último
emerge apenas se o Executivo unilateralmente busque impor sua agenda ao
Congresso (o que não ocorreu sob Dilma
Rousseff e Jair
Bolsonaro). O confronto, portanto, não tem base institucional: é
condicional ao comportamento do presidente. A situação 2 também seria
dificultada, em tese, o primeiro-ministro é responsável perante a Câmara, que o
escolhe indiretamente.
E também poderia teoricamente mitigar
problemas de ingovernabilidade fiscal (situação 4.) que resultariam do fato de
que o Legislativo não internaliza os custos coletivos de suas decisões
orçamentárias porque inexiste responsabilização coletiva do governo. A
estrutura de incentivos subjacente à formação de governos no país também
mudaria, diminuindo o malaise (situação 5.). Estes dois aspectos estão
relacionados ao sistema partidário. O eleitorado teria incentivos em eleger
representantes partidários porque o voto passaria a ter impacto sobre a eleição
do primeiro-ministro.
Em virtude da incerteza gerada pelos
múltiplos equilíbrios potenciais do desenho institucional, Robert Elgie, o mais
respeitado analista do semipresidencialista, concluiu acertadamente que
"após tantos estudos, pelo menos em termos da evidência empírica, ainda
não podemos bater o martelo... o consenso acadêmico pende contra este tipo de sistema de governo".
Como discuti aqui, entre nós o Executivo se fortalecerá quando contar com mais poderes partidários (expandindo sua bancada), houver maior congruência entre as preferências da coalizão de governo e a mediana do Congresso; quando a taxa de coalescência entre Gabinete e Câmara for mais elevada (o que depende da gestão da coalizão); além de fatores contextuais favoráveis (economia, popularidade, avaliação do governo, e menor polarização).
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