I. Alguns pontos preliminares de referência
Nota I. Pela própria
concepção do mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente o
de todos os elementos sociais que compartilham um mesmo modo de pensar e de
agir. Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homens-massa ou
homens-coletivos. O problema é o seguinte: qual é o tipo histórico de
conformismo, de homem-massa do qual fazemos parte? Quando a concepção do mundo
não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos
simultaneamente a uma multiplicidade de homens-massa, nossa própria
personalidade é compósita, de uma maneira bizarra: nela se encontram elementos
dos homens das cavernas e princípios da ciência mais moderna e progressista,
preconceitos de todas as fases históricas passadas estreitamente localistas e
intuições de uma futura filosofia que será própria do género humano mundialmente
unificado. Criticar a própria concepção do mundo, portanto, significa torná-la
unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingi do pelo pensamento mundial
mais evoluído. Significa também, por tanto, criticar toda a filosofia até hoje
existente, na medida em que ela deixou estratificações consolidadas na filosofia
popular. O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que é
realmente, isto é, um “conhece-te a ti mesmo” como produto do processo
histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços
acolhidos sem análise crítica. Deve-se fazer, inicialmente, essa análise.
*Antonio Gramsci
(1891-1937), Cadernos do Cárcere, v. 1, p.94. 5ª edição – Civilização
Brasileira, 2011.
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