quarta-feira, 6 de agosto de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL


CAMPANHA CUSTA A PEGAR
Villas-Bôas Corrêa


Como os veteranos calham- beques que são peça de museu e que custavam a pegar nos dias frios, obrigando o motorista a atléticas proezas para rodar a alavanca até a explosão que anunciava o êxito da operação, também a campanha para a eleição municipal de prefeitos e vereadores só agora começa a dar o ar da sua graça em raras cidades espalhadas pela imensidão do país.

A pobre coitada não tem nenhuma culpa pelo desânimo da imensa maioria da população ou pelo desligamento do eleitorado. E não é motivo para espanto, surpresa ou o clássico jogo-de-empurra das responsabilidades.

Pois o espanto caberia se o povo estivesse na rua acompanhando os candidatos na caçada ao voto, seja nos rastros das favelas dominadas pelos chefes do tráfico ou nas praças e ruas em que os transeuntes apertam o passo para dar conta das suas obrigações. Mas um pouco de otimismo faz bem à saúde. Daqui a duas semanas começa o horário eleitoral no rádio e redes de TV com o desfile de candidatos, a maioria com minutos e segundos para o recado ao eleitor.

Comícios mesmo de lotar praças ou grandes espaços só lá para meados de setembro quando a polarização selecionar os favoritos, com o descarte dos que podem abreviar a volta para casa.

Mas estamos com uma novidade na praça que ainda não foi absorvida nem convenientemente avaliada. Não é mesmo de causar surpresa, mas a sua confirmação acrescenta o molho à paçoca insossa: o presidente Lula proclamou aos quatro ventos que vai entrar de sola na campanha dos candidatos do seu partido e das alianças governistas.

Escolheu o dia, a hora e o local: em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, berço do PT e da sua liderança sindical que o levaria à Presidência da República para os dois mandatos. E imprimiu ao seu desempenho a ênfase de quem anuncia a descoberta de outro mundo: vai participar dos comícios dos candidatos do PT e também dos palanques da candidata Marta Suplicy à prefeitura da capital.

Um adendo pela contramão da negativa: "Não pensem que eu não vou fazer porque eu vou fazer". E quem duvida? Era apenas o gancho para a reafirmação do que fazia cócegas no gogó: "quero dizer para vocês, escrevam: eu vou fazer a minha sucessão, vamos eleger uma pessoa da nossa confiança para dar seqüência a tudo que nós fizemos; para criar mais empregos do que eu, para tratar dos pobres e dos trabalhadores melhor do que eu".

Como a modéstia não é sabidamente um dos seus pecados, Lula recuou da promessa que não mais alfinetar o seu antecessor FHC, na alusão transparente de que "ele não pode errar, mas qualquer presidente pode errar. O cara erra, fica quatro anos (ou oito?) vai embora para o exterior dar aula"... Se ele errar "vai levar mais 500 anos para fazer outro peão presidente da República".

Aqui o presidente pisou na poça da contradição. Pois se a ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff é a escolhida que o presidente saudou com o pedido público de "tratem bem da minha candidata", entre os seus reconhecidos e proclamados méritos não se inclui a de amazona.

Todos entenderam a prioridade presidencial e a escolha da ministra Dilma Rousseff para a opção no teste preliminar do seu desempenho, medido pelas pesquisas.


Murchos, com a frustração estampada na fisionomia, os mais espertos saltaram da garupa: o ministro Tarso Dutra, da Justiça, anunciou que pretende concorrer ao governo do Rio Grande do Sul ou a uma vaga no Senado; Marta Suplicy sonha com o novo mandato de prefeita de São Paulo. E os outros, quem são mesmo os outros?

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