quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cenários Eleitorais

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente de Vox populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

Quem quiser fazer muitas contas com pesquisas tão prematuras pode até se divertir, mas longe não vai

A profusão de pesquisas sobre as eleições de 2010 já começa a criar alguma confusão. Só nos últimos dias, foram três e outras estão vindo por aí. Seus resultados nem sempre convergem.

Quem acompanhou o noticiário em momentos semelhantes de governos anteriores deve se lembrar que essa não era a regra que tínhamos. Ao contrário, apenas quando chegávamos perto das eleições é que as pesquisas de intenção de voto passavam a estar regularmente na mídia.

Não é possível comparar a situação de agora com os períodos de Sarney e Collor, pelas enormes diferenças que guardam com os tempos que vivemos. Mas não tivemos algo parecido em março de 1993, na presidência de Itamar, e nem em março de 1997, quando Fernando Henrique entrava no penúltimo ano de seu primeiro governo.

Isso também não aconteceu no início de 2005, com Lula presidente. Naquela altura, eram incomuns pesquisas sobre as eleições de 2006, que se intensificaram apenas no segundo semestre, a partir do mensalão. Já em setembro, elas passaram a ser feitas e divulgadas com regularidade.

A exceção mais notável a essa regra nos ajuda a entender por quê. Dos presidentes contemporâneos, o único que governou convivendo com frequentes pesquisas sobre sua sucessão foi Fernando Henrique no segundo mandato. Aquele, que nem bem tomou posse, viu a economia brasileira ir quase à deriva, enquanto o governo se mostrava incapaz de esboçar uma reação competente.

A crise cambial de 1999 provocou uma antecipação subjetiva do calendário político de vários anos, fazendo com que a imprensa e a opinião pública se interessassem cedo (até demais) pelo futuro. Ainda no primeiro semestre daquele ano, pesquisas sobre as eleições de 2002 se tornaram habituais.

Não deve ser agradável para um presidente com muito tempo de governo ler, todo dia, pesquisas sobre quem tem mais chances de sucedê-lo. É como se seu governo ficasse desimportante antes da hora, se tornasse irrelevante.

Essa parece ser a consequência que aguarda os presidentes que erram muito aos olhos da sociedade. Foi o sentimento mais característico a respeito de Fernando Henrique naquela altura, um presidente que todo o país admirava pela inteligência e que se revelou de uma inesperada inabilidade para lidar com a crise financeira. Foi o que ocorreu com Lula durante o mensalão, que tinha a imagem de alguém sobre quem tudo se poderia dizer, menos que compactuaria com atos como os que foram denunciados.

Olhando, então, nosso passado pós-redemocratização, quase poderíamos chegar a um princípio geral de nosso sistema político, segundo o qual a proliferação de pesquisas eleitorais antes da hora é sintoma de crise de imagem e de credibilidade de um presidente. Tudo que se passou nos últimos 15 anos confirmaria a regra.

O problema é que a situação que estamos vivendo neste momento a desmente. Agora, temos um Lula que, mesmo tendo, recentemente, perdido vários pontos nos indicadores de popularidade, continua sendo o campeão da aprovação dentre os presidentes modernos. Aliás, as pesquisas deste começo de ano apenas seguem as que se fazem desde 2007, quando seu governo só crescia na boa avaliação.

O principal responsável pelo que acontece é o próprio Lula. Quem gosta de um palanque como ele deve adorar pesquisas eleitorais, especialmente as que atestam sua força. Seja se fosse disputar um hipotético terceiro mandato, seja quando decide confirmá-la lançando uma candidata como Dilma. O que pôs as pesquisas em pauta foram seus atos.

Pesquisas eleitorais feitas agora são úteis para muitas coisas. Medem quão conhecidas são algumas pessoas, normalmente as que já disputaram eleições parecidas. Fornecem argumentos para disputas internas, nos partidos que não têm dono. Ajudam a identificar os efeitos de conjuntura nas inclinações do eleitorado.

Pouco mais que isso, no entanto. Quem quiser fazer muitas contas com pesquisas tão prematuras, pode até se divertir, mas longe não vai.

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