quarta-feira, 27 de maio de 2009

Máquinas em parafuso

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mais afetada pela baixa do investimento e da exportação, indústria de máquinas volta a vender e empregar menos

A INDÚSTRIA de máquinas chegou a dizer que a discreta melhora de março indicava um "fundo do poço". Mas, em abril, o tempo fechou para os produtores de bens de capital. Vendas e emprego voltaram a piorar, inclusive em relação a março. A direção da Abimaq foi nesta semana pedir ao BNDES apoio a um plano de emergência. Abimaq é a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.

As queixas da Abimaq são as de sempre. "Perdemos negócios para americanos, alemães e italianos por causa de imposto. Posso dizer que, na ponta do lápis, perdemos por causa de imposto. Desde metade de 2008, tenho visto isso acontecer cada vez mais. Nesses casos, tínhamos preço igual ou melhor. E nem estou falando de câmbio. Temos visto empresas praticamente fecharem por causa de câmbio", afirma Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq.De setembro a abril, ao lado da indústria de metalurgia e de máquinas e equipamentos elétricos, a de máquinas e equipamentos foi a que registrou o maior baixa da produção, segundo o IBGE -mais que o dobro do recuo médio mensal da indústria.

As importações de bens de capital cresceram 24% no acumulado de 12 meses até abril (em quantidade); as exportações caíram 7,7%. Entre os componentes do PIB (pela ótica da demanda), o investimento, que inclui máquinas e equipamentos, foi o que levou o maior tombo no trimestre final de 2008. Não deve ter sido diferente no início de 2009. O subsetor de máquinas para a indústria de bens de consumo é o que mais apanha, segundo a Abimaq.As empresas ligadas à Abimaq já demitiram cerca de 20 mil dos 250 mil trabalhadores que chegaram a empregar, no pico, em outubro de 2008. Segundo a associação, o salário médio dos trabalhadores do setor é o dobro da média dos rendimentos das seis regiões metropolitanas onde o IBGE levanta dados.

Mario Bernardini, assessor econômico da direção da Abimaq, diz que "resolver o câmbio é sonho, mas com impostos se pode fazer algo. Mas o governo escolhe setores de maneira arbitrária e não pensa no conjunto da cadeia industrial [referindo-se à isenção de impostos para carros e alguns eletrodomésticos, com a qual concorda, aliás]". No plano da Abimaq, grosso modo, pede-se que os compradores de máquinas possam usar imediatamente os créditos fiscais. Querem dois anos de carência para recolher ICMS, IPI, PIS e Cofins devidos entre junho de 2009 e maio de 2010, além de redução a zero do IPI ainda restante sobre alguns produtos. Do BNDES, querem financiamento de 100% de máquinas para a renovação da indústria, mais carência de amortização e juros do financiamento.

Mesmo com um pacote desses, é difícil acreditar na retomada do investimento: a capacidade ociosa da indústria é grande, a queda da exportação de manufaturados é brutal e a crise vai durar nos países clientes das fábricas brasileiras. Mas, apesar do debate inconclusivo (por falta de dados melhores) sobre a especialização precoce da indústria nacional, o tombo das máquinas foi especialmente feio. E se trata de um miolo sofisticado da cadeia produtiva. Sem indústria de máquinas e equipamentos, o país vai, por exemplo, importar toda a infra do pré-sal?

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