quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Honduras sitia Embaixada do Brasil

DA REDAÇÃO
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Governo golpista corta água e luz de casa onde Zelaya se abrigou; presidente deposto diz que está tranquilo

Forças de segurança do governo golpista de Honduras cercaram a embaixada brasileira no país, onde o presidente Manuel Zelaya, deposto em junho, está abrigado desde anteontem.

Soldados lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra cerca de 4.000 manifestantes pró-Zelaya nos arredores da casa, e os manifestantes atiraram pedras. Houve ao menos 20 feridos. De madrugada, o governo cortara água, luz e telefone da embaixada, deixando os 313 presentes na dependência de um gerador a diesel.

O Brasil pediu reunião do Conselho de Segurança da ONU para garantir a segurança de Zelaya. O presidente Lula chamou o governo hondurenho de "golpista" e defendeu negociações por "uma saída democrática". O presidente interino do país, Roberto Micheletti, diz que não invadirá a embaixada.

Em entrevista por telefone a Eliane Cantanhêde, Zelaya afirmou que não combinou com o Brasil sua volta a Honduras e se disse "muito tranquilo".

Honduras sitia Zelaya em missão do Brasil

Forças de segurança dispersam apoiadores do presidente deposto, e embaixada brasileira tem luz, água e telefone cortados

Líder golpista dá garantia de que representação não será invadida; polícia detém 150 pessoas, e ex-chanceler de Zelaya já fala em "mortos"

Apoiadores de Zelaya tentam proteger-se de bombas de gás lacrimogêneo em frente à Embaixada do Brasil; deposto antevê "atos piores, inclusive uma invasão"
Forças de segurança cercaram ontem a Embaixada do Brasil em Honduras, onde o presidente deposto Manuel Zelaya está refugiado desde anteontem, após entrarem em confronto com partidários de Zelaya, que haviam se aglomerado em frente à representação na véspera para comemorar o regresso do mandatário.

Utilizando bombas de gás lacrimogêneo, soldados e policias obrigaram cerca de 4.000 manifestantes pró-Zelaya a deixar os arredores da representação do Brasil em Tegucigalpa e ocuparam prédios contíguos, enquanto helicópteros sobrevoavam o local. Manifestantes reagiram atirando pedras, e ao menos 20 pessoas ficaram feridas.

Durante a madrugada, o governo golpista cortara água, luz e telefone da casa de dois andares que abriga a representação, deixando as estimadas 303 pessoas presentes -depois reduzidas a 70- na dependência de um gerador de energia a diesel.

Ao menos duas bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas contra a embaixada brasileira durante a dispersão, mas não houve relatos de feridos.

Em clima de tensão, durante o dia de ontem forças de segurança patrulharam ruas de Tegucigalpa para garantir o cumprimento do toque de recolher decretado pelo governo golpista depois da confirmação da volta do deposto, estendido ao menos até hoje.

Segundo a polícia, cerca de 150 pessoas foram presas por desrespeito ao toque de recolher e por participação em distúrbios -que incluíram ataque a veículos das forças de segurança- e levados a um estádio de beisebol. Foram fechados também os quatro aeroportos internacionais hondurenhos e postos de controle na fronteira.

A emissora pró-Zelaya Canal 36 teve a energia elétrica cortada e não realizava transmissões desde a noite de segunda. Para o governo golpista, a imprensa realiza "terrorismo midiático".

O presidente deposto, que adotou o bordão "pátria, restituição ou morte", disse que o cerco à representação permitia "antever atos piores de agressão e violência, inclusive a invasão da Embaixada do Brasil".

"Sabemos que estamos em perigo. [Mas] estamos dispostos a arriscar tudo, a nos sacrificar", disse Zelaya, que convocou partidários a Tegucigalpa.

O líder golpista, Roberto Micheletti, rejeitou, porém, uma invasão: "Digo publicamente ao presidente Lula, respeitaremos sua sede, porque é terra do Brasil, e nós a respeitaremos".

Micheletti elogiou pedido de Lula a Zelaya para que não promova atos que deem argumentos a uma invasão, mas voltou a cobrar de Brasília que conceda asilo ao deposto -o que Zelaya rejeita- ou então o entregue à Justiça hondurenha para a realização do "devido processo".

O governo Micheletti rejeita a versão de que tenha destituído Zelaya por meio de golpe e acusa o deposto de ter desrespeitado a Constituição do país ao tentar levar a cabo uma consulta para promover referendo junto com a eleição do próximo dia 29 de novembro. Para o governo interino, a medida visava permitir a reeleição de Zelaya.

Em Nova York, a chanceler de Zelaya, Patricia Rodas, disse que "a repressão visa o povo hondurenho" e que, além dos feridos, "já estão por ser confirmadas mortes", entre as quais a de uma criança que aparentemente morreu devido à fumaça causada por gás lacrimogêneo.

Rodas exortou ainda países a restaurar os embaixadores retirados de Honduras, para apoiar o retorno de Zelaya ao poder.

Mediação

Devido ao retorno unilateral de Zelaya, Micheletti deu ainda por encerrada a mediação da crise realizada pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias.

Já os candidatos ao pleito de novembro ofereceram-se ontem como "interlocutores" entre as partes e exortaram Micheletti e Zelaya ao diálogo. O candidato Porfirio Lobo, direitista que havia respaldado o golpe, ameaçou retirar o apoio se o líder golpista não dialogar.

Com agências internacionais

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