sexta-feira, 28 de maio de 2010

Brasil e Irã :: Roberto Freire

DEU EM BRASIL ECONÔMICO

Nos últimos dias, as agências de propaganda do governo têm noticiado como o "maior feito histórico de nossa diplomacia" um acordo que o Brasil assinou com o Irã, com a participação da Turquia, buscando "resolver o impasse" do programa nuclear iraniano, que tem sido desenvolvido com obstáculos às inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica, ligada a ONU.

O Brasil, à exceção do período ditatorial, sempre adotou uma postura não apenas claramente contrária à proliferação das armas nucleares, como a favor da desnuclearização e do desarmamento e da solução pacífica e negociada das controvérsias e conflitos internacionais, como obriga a Constituição.

Além disso, repudiamos o terrorismo e o racismo e proclamamos a prevalência dos direitos humanos.

A ditadura teocrática iraniana - que tem usado a prisão, a tortura e o assassinato de opositores como prática comum - desenvolve, desde algum tempo, uma declarada política armamentista.

Não só nega a existência do Holocausto como proclama objetivos belicistas e o desejo de destruir o Estado de Israel.

Nesse quadro é que vem acelerando esforços para enriquecer urânio, indispensável à construção de armas nucleares, sob suspeitas da comunidade internacional, até porque se recusa a aceitar inspeções da AIEA.

Não é sem motivos que o Conselho de Segurança da ONU, a pedido dos EUA, pressiona seus dirigentes a abrirem suas instalações nucleares ao escrutínio da AIEA.

Por este acordo, chancelado pelo Brasil, fica estabelecido que o Irã enviará 1,2 tonelada de urânio com baixo grau de enriquecimento (3,5%) para a Turquia em troca de 120 kg de combustível enriquecido a 20%.

Ato contínuo, entretanto, o atual governo persa já anunciou que irá continuar o processo de enriquecimento de seu urânio.

Como se sabe, a tecnologia de enriquecimento de urânio para ser usado como combustível na produção de energia nuclear também pode ser usada no enriquecimento de urânio ao nível mais alto, necessário para a confecção de armas nucleares.

É esse o ponto que toda a comunidade internacional vê com preocupação, graças aos atos de dissimulação do próprio Irã.

Estamos assistindo a um perigoso jogo eleitoreiro de nossa diplomacia, que poderá ter conseqüências danosas para a imagem do país.

Por trás desse movimento, teme-se que o país esteja no mesmo caminho do Irã, buscando criar embaraços para que AIEA faça seu trabalho de acompanhamento de nossa própria política nuclear, que recentemente tem adquirido uma preocupante vertente militarista, com a construção de submarinos movidos a energia atômica.

Política internacional não é o lugar apropriado para blefes e espertezas. Cedo ou tarde, qualquer país que adentre esta seara terá que fazer valer seu poder específico na defesa de suas propostas.

Temos efetivamente tal poder? E no campo interno, estaremos assistindo a mais uma patriotada de nossa diplomacia ou o retorno do "Brasil, ame-o ou deixe-o" entoado pelo Brasil potência dos tempos da ditadura?

Roberto Freire é presidente do PPS - Partido Popular Socialista

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