No longínquo ano de 2000, Lula publicou um artigo histórico na "Gazeta Mercantil". Chamava-se "A honestidade como vantagem comparativa". Na ocasião, o PT o recomendou a todos os que disputavam as eleições municipais, como arma de campanha.
Citei essa peça de museu há três anos, neste espaço. Volto a fazê-lo sem a pretensão de recomendá-la ao partido que acaba de reincorporar Delúbio Soares a seus quadros.
A honestidade há muito deixou de ser uma "vantagem comparativa" do PT (a despeito de vários bons sujeitos que lá estão). Mas tampouco a desonestidade se tornou uma desvantagem na comparação com as demais legendas, como a oposição, no seu moralismo cínico e à falta do que dizer, pareceu apostar. Aos olhos do eleitorado, nenhum partido tem hoje o monopólio da ética (o PSOL talvez pudesse reivindicar o troféu, mas é irrelevante).
Isso não significa que a opinião pública seja indiferente à gatunagem. Pelo contrário. O mensalão, que quase derrubou Lula, e o caso da "famiglia Erenice", que comprometeu a campanha de Dilma, no ano passado, são bons exemplos de que grande parcela da sociedade repudia e reage à corrupção.
Ocorre que até agora a melhoria das condições de vida dos pobres foi suficiente para "compensar" as falhas morais do PT. O partido também ficou cínico. Mas corre o risco de confundir a popularidade de Lula com aprovação à roubalheira.
Ao readmitir Delúbio o PT sabe que se desgasta, mas aposta que será mais uma vez "anistiado". Em 2009, quando o ex-tesoureiro do mensalão tentou voltar e encontrou resistências (por causa da sucessão de Lula, não de princípios), deixou claro aos petistas que se alguém devia algo não era ele, mas sim os que se beneficiavam do seu silêncio.
O PT agora retribui tanto sacrifício. Num partido há muito delubizado, ao voltar do degredo essa triste figura se torna uma espécie de herói da desonestidade como vantagem comparativa.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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