A Anvisa abriu auditoria para apurar como seu ex-diretor, e atual governador do DF, Agnelo Queiroz, autorizou a concessão para que o laboratório União Química produzisse medicamentos e participasse de licitações. Em 2008, Agnelo recebeu depósito de R$ 5 mil de um funcionário do laboratório.
Anvisa vai apurar denúncia contra Agnelo
Ex-funcionário de farmacêutica que dizia ter pagado propina ao governador do DF muda versão e acusa deputadas
Evandro Éboli
BRASÍLIA. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu abrir auditoria para apurar as condições em que o ex-diretor do órgão e atual governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), autorizou concessão do Certificado de Boas Práticas de Produção (CBPF) à União Química. Em 25 de janeiro de 2008, Agnelo, então diretor da Anvisa, recebeu depósito de R$5 mil em sua conta corrente de Daniel Almeida Tavares, funcionário desse laboratório. No mesmo dia, Agnelo liberou o documento à empresa.
Na Anvisa, o petista era responsável pela inspeção de laboratórios. Sem esse certificado, a empresa não pode produzir e participar de licitações. A Anvisa abriu investigação após denúncias publicadas ontem ligando o depósito na conta de Agnelo à liberação do documento.
Em nota segunda-feira, Agnelo diz ser amigo dos proprietários do laboratório há 20 anos e que, por isso, emprestou os R$5 mil a Daniel. Ontem, Agnelo deu outra versão e disse que emprestou pois tinha amizade com Daniel.
A denúncia contra o governador virou um jogo de versões e bate-boca entre deputados distritais do governo e da oposição. E também uma guerra de vídeos, onde o único protagonista é Daniel. Ontem apareceu a gravação em que Daniel, que diz ser hoje um comerciante, dá um depoimento à deputada Celina Leão (PSD), da oposição e presidente da Comissão de Ética e Direitos Humanos. Nesse vídeo, de 23 de outubro, um domingo, Daniel diz que pagava propina a Agnelo.
O comerciante contou até que a União Química colaborou com a campanha de Agnelo para o Senado, em 2006, num esquema de caixa dois, com a entrega de R$150 mil em espécie. Esse dinheiro teria sido entregue no apartamento 1.107 do Bonaparte Hotel Residence.
- Isso não foi declarado na campanha - disse Daniel no depoimento.
O comerciante, na gravação, também falou dos R$50 mil que teria repassado para Agnelo, em 2008.
- (Eram) Propina. Tudo que era dinheiro para ele (Agnelo) era de propina. Algum serviço para ele prestar.
Daniel contou que entregou R$45 mil e que faltaram os R$5 mil, que depositou na conta de Agnelo em janeiro de 2008. O comerciante afirmou que Agnelo cobrava esse restante.
- Ele me ligou 500 vezes me cobrando esses R$5 mil. Eu estava em Goiânia e fui obrigado a fazer a transferência eletrônica que está aqui para eu provar.
Ontem, ao programa "Balanço geral", da TV Record de Brasília, Daniel mudou a versão e disse que foi pago pela deputada da oposição Eliana Pedrosa (PSD) para acusar Agnelo.
- Ela me fez essa proposta (de dinheiro). Era para (fazer) as denúncias de extrato, de tudo. Que era propina, pagamento de propina. Falei tudo que eles queriam ouvir. Todos os pontos foram plantados pelo senhor Eduardo (irmão de Eliana Pedrosa) - disse Daniel ontem.
O deputado distrital Chico Vigilante, líder do PT na Câmara Legislativa, apresentou vídeo com outro depoimento de Daniel, no qual o comerciante voltou a negar as acusações contra Agnelo. Ele disse que são amigos desde 1998, que passou por dificuldades financeiras e que os R$5 mil que depositou eram mesmo pagamento de um empréstimo feito pelo governador:
- Tenho apreço muito grande pelo govenador. Ele me ajudou no passado. Nos conhecemos desde 98, no PCdoB.
Em discurso no plenário, Vigilante disse que os ataques a Agnelo revelam o submundo da política em Brasília e minimizou as declarações de Daniel a Celina. O petista disse que as duas deputadas da oposição teriam oferecido R$400 mil para Daniel envolver Agnelo em denúncias, salário de R$10 mil mensais por um ano e um aluguel de um apartamento de R$4 mil em Águas Claras (DF).
- Alguém vai pagar por isso. Tentaram desestabilizar o governador Agnelo Queiroz. Isso tem que ser investigado. A farsa começa a mostrar sua cara. A casa começa a cair - afirmou o líder do PT.
Depois foi a vez de as deputadas se defenderem e atacarem o governo. Eliana Pedrosa negou a oferta de suborno a Daniel. Ela diz que foi procurada espontaneamente por Daniel, que se dizia perseguido. Ela, então, chamou Celina, para registrar seu depoimento. Eliana disse que foi Daniel quem pediu dinheiro para assinar documento acusando Agnelo.
- Foi ele quem pediu dinheiro. Só assinaria se recebesse. Não levamos a história à frente, porque ele queria dinheiro - disse Eliana Pedrosa.
Celina Leão disse não entender por que Daniel teria mudado de versão.
- Ele (Daniel) quer fazer um leilão com suas informações. Parece que ele achou quem pagasse bem - disse Celina, referindo-se aos governistas.
Em nota, Agnelo disse não temer a investigação da Anvisa.
"Será mais uma forma de prova que inexiste a conexão que tentam construir. Não depende apenas da vontade, da decisão, do diretor o encaminhamento para liberação de certificados. A avaliação passa por várias áreas técnicas e vistorias específicas antes da assinatura do diretor. É preciso que o candidato ao certificado atenda todos os critérios e pré-requisitos exigidos pela Anvisa", disse Agnelo, justificando a concessão do certificado à União Química.
FONTE: O GLOBO
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