sábado, 3 de dezembro de 2011

Sob efeito da crise, produção industrial volta a cair no Brasil

A produção da indústria brasileira caiu 0,6% em outubro sobre o mês anterior, segundo o IBGE. Foi a terceira queda seguida e a maior para o mês desde 2009.

O resultado mostra que a economia sente reflexos da crise europeia. O contágio se dá pela retração da exportação e pela piora da confiança do consumidor.

Queda da indústria reforça pessimismo na economia

Produção perde fôlego com crise externa e cai pelo terceiro mês seguido

Piora do cenário fez governo antecipar medidas de estímulo, mas analistas preveem que efeito será modesto

Pedro Soares, Valdo Cruz

RIO – BRASÍLIA - A produção da indústria voltou a diminuir em outubro, reforçando os sinais de que a crise internacional fez a economia brasileira perder dinamismo neste fim de ano.

A indústria começou a perder fôlego em agosto, como reflexo da crise na Europa e nos EUA, que prejudica as exportações brasileiras, e das medidas tomadas pelo governo no início do ano para conter a inflação.

Embora o Banco Central agora esteja baixando os juros e o governo tenha tomado medidas para estimular a economia, a falta de ânimo de empresários e consumidores para investir e gastar continua afetando a indústria.

Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 0,6% em outubro. Foi a maior retração registrada no mês de outubro desde 2009, quando o país sofreu uma recessão por causa da crise global.

A produção da indústria atingiu um pico em março deste ano, está em queda desde agosto e hoje se encontra num nível 4,7% abaixo daquele patamar. Dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, 20 registraram queda.

"A deterioração da confiança de empresários e consumidores rebateu no consumo e nos investimentos", disse o economista André Macedo, do IBGE.

Economistas de bancos e consultorias reviram suas projeções e agora prevêem que a indústria terá expansão de 0,5% ou menos neste ano.

Isso deve contribuir para que a economia brasileira tenha um desempenho fraco nos últimos meses do ano, diz o economista Aurélio Bicalho, do Itaú-Unibanco.

O pessimismo diante da deterioração do cenário externo levou a presidente Dilma Rousseff antecipar nesta semana um pacote com medidas de estímulo ao consumo que estavam em estudo no governo.

Ela decidiu anunciar as medidas após ser informada por sua equipe, na última segunda-feira, de que o país pode crescer 3,2% no seu primeiro ano de mandato, bem abaixo do previsto no início do governo.

Até então, a última previsão repassada ao Palácio do Planalto apontava um crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011, num momento em que o mercado já trabalhava com algo mais próximo de 3%.

A mudança nas previsões do governo é pequena, mas fez Dilma concluir que era preciso agir rapidamente para garantir que o final do ano não seja tão ruim e dar impulso à economia no primeiro trimestre do próximo ano.

Ao avaliar os novos dados, o maior receio dos assessores presidenciais é que eles apontavam o risco de o crescimento ficar abaixo de 3% neste ano e entrar 2012 num ritmo muito fraco.

Daí a decisão de adotar medidas com impacto imediato no mercado consumidor, com redução de impostos de produtos da linha branca, num movimento combinado com empresários do varejo.

A partir do final do primeiro semestre, o governo aposta que a economia ganhará um ritmo mais acelerado por conta dos cortes de juros promovidos pelo Banco Central desde agosto.

A maioria dos economistas acha que o efeito das medidas anunciadas nesta semana será limitado. Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, diz que elas são "paliativas", mas devem evitar "uma recessão mais profunda" em 2012.

A equipe da presidente tem falado num crescimento de 5% em 2012 com as medidas adotadas anteontem, o aumento real do salário mínimo em janeiro e a redução das taxas de juros, mas os analistas acham essa taxa impossível de ser atingida diante do cenário de desaceleração da economia mundial.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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