segunda-feira, 5 de março de 2012

Lacrimosa :: Melchiades Filho

Há duas maneiras de interpretar o choro engasgado de Dilma Rousseff na cerimônia de posse do novo ministro da Pesca.

Uma delas ajuda a alimentar a imagem da técnica dedicada a buscar soluções para os problemas do Brasil e decidida a não perder tempo com negociações partidárias.

Ao lamentar em público a demissão de Luiz Sérgio, admitir candidamente que o objetivo foi fazer vaga para um evangélico e afirmar que às vezes é preciso entender "as necessidades de um governo de coalizão", a presidente sugere que faz política somente por necessidade.

A mensagem é que, se dependesse exclusivamente da vontade de Dilma, as nomeações se dariam sempre por mérito e/ou afinidade -vide Graça Foster (Petrobras) e Eleonora Menicucci (Mulheres). Que, para ela, é concessão, quase violência, tocar o dia-a-dia ao lado de peemedebistas, pepistas e demais "istas".

Essa leitura torna Dilma singular na comparação com outros governantes do passado e do presente.

Mas também é possível enxergar nas lágrimas indício justamente do contrário: a presidente já emula o antecessor até no uso da emotividade para reforçar a "marca".

Chorou de apreço por Luiz Sérgio? Ele não era próximo de Dilma, já tinha sido degolado uma vez (Relações Institucionais) e, inoperante, era alvo de piadas palacianas.

De desconforto com Marcelo Crivella, o novo ministro, que nunca viu um anzol? Nomes como Mário Negromonte passaram pela Esplanada sob completa tolerância.

De preocupação com a Pesca? A pasta quase foi extinta neste ano.

Blagues cada vez mais frequentes -como prometer distância das eleições municipais e, logo em seguida, operar a céu aberto em prol da candidatura de Fernando Haddad. Declarações progressivamente coloridas -"tsunami de dólares". Coração alado. O continuísmo ganha força no segundo ano de Dilma.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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