Após acordo entre governo e oposição, a CPI do Cachoeira engavetou pedidos para investigar tanto a empreiteira Delta como governadores e parlamentares acusados de envolvimento com Carlinhos Cachoeira. A Delta só será alvo de apuração em seu escritório do Centro-Oeste. A comissão livrou, por ora, seu presidente licenciado, Fernando Cavendish
CACHOEIRAGATE
CPI poupa políticos e empreiteira e decide limitar investigação
Acordo selado pelo PT com o incentivo do Planalto engaveta pedidos para convocar três governadores
Representantes do governo dizem que objetivo não é fazer devassa; parlamentares da oposição reclamam
José Ernesto Credendio, Andreza Matais
BRASÍLIA - Num jogo combinado entre o governo e parte da oposição, a CPI do Cachoeira engavetou ontem pedidos de investigação de três governadores, cinco deputados e das operações da empreiteira Delta fora do Centro-Oeste.
Criada há um mês para investigar o empresário Carlinhos Cachoeira e seu relacionamento com autoridades como o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), a CPI até agora não ouviu nenhum dos políticos envolvidos no caso.
A CPI aprovou ontem 87 requerimentos, dos quais apenas um busca informações sobre a ligação entre Demóstenes e Cachoeira. "Não sei por que saio da reunião de hoje com gosto de orégano na boca", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Em entrevista à Folha e ao UOL, o senador Pedro Taques (PDT-MT) afirma que a investigação está mais para "chapa-branca". No Congresso, ele afirmou que a comissão está "amarelando".
O acordo que engavetou os pedidos de investigação, antecipado ontem pela Folha, foi costurado com a participação do governo. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, tem orientado o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
A ordem foi poupar a Delta, que tem dezenas de contratos com o governo federal e os Estados, em troca da não convocação do governador Marconi Perillo (PSDB-GO).
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) resumiu a ação: "Generalização cheira a devassa. (...) Precisamos andar em caminhos seguros."
A comissão decidiu restringir a investigação sobre a Delta à sua atuação no Centro-Oeste, onde o diretor da empresa era ligado a Cachoeira.
O dono da construtora, Fernando Cavendish, não será chamado para depor. Pedidos de quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico foram barrados também.
Cavendish é amigo do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), aliado do governo. A construtora tem contratos com o Estado.
Com isso, os trabalhos da CPI deverão ficar limitados ao material que já foi levantado pela Polícia Federal.
A CPI quebrou os sigilos fiscal e bancário da Delta apenas no Centro-Oeste, de empresas de Cachoeira e de seus operadores. Vários deles já tiveram a movimentação financeira analisada pela PF.
Foram engavetados requerimentos que pediam a convocação de Cabral e dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Cachoeira tinha pessoas de sua confiança em postos-chave nos dois governos, segundo o inquérito da PF.
Parlamentares disseram que os pedidos de convocação dos governadores poderão ser analisados em junho. O ex-chefe de gabinete de Agnelo, afastado depois que sua ligação com o grupo de Cachoeira veio à tona, foi chamado para depor pela CPI.
"Reuniu-se um grupo numa sala e decidiram quem vai morrer", disse a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). "Estamos convocando os bagrinhos."
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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