• Taxa é a 2ª menor entre as principais cidades do país. Mas analistas temem piora após o fim da Olimpíada
Daiane Costa - O Globo
Diferentemente do que ocorreu na maioria das capitais do país, onde a taxa de desemprego chegou aos dois dígitos com a recessão, o Rio de Janeiro fechou o segundo trimestre de 2016 com um índice de 7,3%, o segundo menor entre as 27 principais cidades do país, atrás apenas de Campo Grande e Florianópolis — ambas com 7,2%. A taxa da capital fluminense é dez pontos percentuais menor do que a mais elevada, de Salvador (17,6%), e quatro pontos menor do que a média do Brasil no período, que foi de 11,3%. No mesmo período do ano passado, o índice de desemprego no Rio havia ficado em 4,2%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, cujos resultados regionais foram divulgados ontem pelo IBGE.
Taxas de desemprego recordes pelo País
Historicamente, o Rio tem taxa de desemprego menor do que a da maioria das capitais. E, mesmo com a crise, os índices se mantiveram mais baixos, em razão do “colchão olímpico”, que é como os analistas chamam os empregos gerados pela Rio-2016 e que, há pelo menos seis anos, influenciam o mercado de trabalho carioca.
Mas, para os economistas, com o fim da Olimpíada, essa vantagem deve acabar.
— Dada a atual conjuntura, essa realidade deve mudar a partir de outubro, com as desmobilizações das obras e equipes que trabalham nos Jogos. O Rio deve viver uma ressaca sociocultural, e o impacto no mercado de trabalho, numa condição de recessão econômica, pode ser dramático — avalia Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, compartilha da opinião:
— O mercado do Rio vai sofrer um baque significativo no pós-Olimpíada, e a taxa vai dar uma acelerada para mais perto da do país. A Olimpíada criou uma bolha no Rio, que está prestes a estourar.
O levantamento do IBGE mostrou que o desemprego fez novos recordes pelo país no segundo trimestre do ano na comparação com igual período do ano passado. A taxa de desocupação foi a maior já registrada por 20 estados e pelas cinco grandes regiões do país. No Norte, pulou de 8,5% para 11,2%; no Nordeste, de 10,3% para 13,2%; no Sudeste, de 8,3% para 11,7%; no Sul, de 5,5% para 8%; e no Centro-Oeste, de 7,4% para 9,7%. Entre os estados, a maior taxa foi registrada no Amapá: 15,8%. Na avaliação dos economistas, os índices ainda devem subir mais. Ganz, do Dieese, acredita que essa aceleração da taxa de desemprego ocorrerá, ao menos, até junho do ano que vem.
— Estamos numa recessão muito grave, então, não teremos recuperação, e há mais gente procurando emprego, assim como há mais pessoas sendo dispensadas. A taxa vai crescer pelo menos até meados do ano que vem — ressalta o diretor técnico do Dieese. Para Barbosa Filho, da FGV, ainda não é possível identificar quando o mercado de trabalho chegará ao fundo do poço:
— A expectativa é que, nos próximos meses, esses recordes venham a ser batidos de novo. Diria que o mercado ainda não chegou a seu pior momento e, uma vez que ele atinja o fundo do poço, vai demorar a reagir.
Um dos dados apresentados ontem que explicam a leitura do economista é o crescimento do desemprego nos grupos de trabalhadores com idades entre 25 a 39 anos e de 40 a 59 anos — que são maioria na força de trabalho. No primeiro caso, a alta foi de 31,6% e, no segundo grupo, o aumento foi ainda maior, de 43,2%, em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, esse crescimento, principalmente no grupo até 59 anos, preocupa:
— A taxa de desemprego ainda é mais alta entre os jovens, mas há avanço na taxa de 40 a 59 anos, grupo mais adulto, que tem chefes de famílias. A consequência disso são mais pessoas procurando, pois é um desemprego que empurra jovens (filhos dos chefes de família, por exemplo) a procurar emprego também.
Nem mercado informal absorve trabalhadores
O coordenador do IBGE explica que o segundo trimestre do ano, historicamente, é marcado por um aquecimento do mercado, devido à retomada do processo produtivo. Mas, em razão da crise, pelo segundo ano consecutivo, o período de abril a junho não deu trégua ao desemprego.
— A expectativa é que menos unidades da federação tivessem recorde de desocupação, mas ocorreu o contrário, devido ao aumento da procura por emprego. É um quadro bastante similar ao geral do Brasil nesse mesmo período — afirma Azeredo, acrescentando: — A desocupação cresce em todos os recortes geográficos, resultado da combinação da perda de trabalho com carteira com um mercado informal que já não absorve mais esses trabalhadores como antes. Isso ocorre porque você tem um comércio que sofre diante de uma renda que continua em queda, freando os gastos das famílias.
O rendimento médio real habitual dos trabalhadores ficou acima da média do Brasil (R$1.972) nas regiões Sudeste (R$ 2.279), Centro-Oeste (R$ 2.230) e Sul (R$ 2.133); diferentemente do registrado em Norte (R$ 1.538) e Nordeste (R$ 1.334). O Distrito Federal apresentou o maior rendimento (R$ 3.679), enquanto o Maranhão (R$ 1.072) teve o menor rendimento.
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