O presidente Michel Temer é beneficiário no momento de uma afasia política que domina os principais centros de poder no país. Não há um consenso sobre quem assumiria o governo caso Temer fosse retirado do Planalto, e nem há interesse do PMDB, o maior partido do Congresso, de colocar em risco seu predomínio no Legislativo.
Ao mesmo tempo, nem PSDB nem PT, os dois polos partidários que disputam a Presidência entre si desde 1993, mas sempre tiveram o PMDB como coadjuvante essencial, estão interessados na saída de Temer do poder central, embora o PT sustente oficialmente esse objetivo para manter sua militância alerta.
O PSDB porque se transformou no principal sustentáculo do governo e teme ficar no vácuo caso desistisse desse papel para partir para a oposição a Temer. Pensa-se no futuro do partido com a ideia de que o PMDB poderá vir a ser um apoio imprescindível para uma candidatura presidencial em 2018.
Mas também a estratégia tem a ver com o presente, pois o destino político do senador afastado Aécio Neves, presidente licenciado do partido, depende fundamentalmente do apoio do PMDB na Comissão de Ética do Senado ou no próprio plenário, se o STF aprovar o pedido do procurador-geral da República para prender o senador mineiro.
Há também o receio, tanto no PMDB quanto no PSDB, de que, com o afastamento de Temer do governo por seis meses, no caso de a Câmara aprovar um eventual processo contra o presidente da República, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) torne-se a solução natural numa futura eleição indireta, fortalecendo-se para a eleição de 2018 caso conseguisse aprovar as reformas trabalhista e previdenciária.
Do lado petista, a campanha incipiente por eleições diretas para a substituição de Temer serve apenas para manter a chama acessa da militância, mas seus dirigentes sabem que não existe essa possibilidade. Chegou a vez de o PT considerar que a melhor solução política é deixar Temer sangrando em praça pública até a eleição de 2018, quando os petistas consideram que estarão mais fortes para a disputa presidencial devido ao que consideram inevitável fracasso do governo Temer, que levaria de roldão também os tucanos.
O problema é que todos esses partidos estão agindo com estratégias que correspondem à antiga maneira de fazer política, que ainda não desapareceu de nossa realidade, mas é rejeitada pela maior parte da sociedade brasileira.
O PSDB comete um erro brutal de estratégia ao decidir, como fez ontem, permanecer no governo à espera de fatos novos que provoquem novas decisões. Reforça, assim, o estereótipo de que está sempre em cima do muro, incapaz de tomar decisões com a rapidez que os tempos modernos exigem.
O que se vê na sociedade é a busca de um canal que expresse a vontade do novo, de mudança, e o PSDB poderia ser este canal, desde que se livrasse de seu passado que está sendo exposto e ficasse à frente dessa campanha.
Mas, na tentativa de se equilibrar junto do governo Temer, pensando num apoio eventual ao seu candidato em 2018 e em preservar o seu presidente afastado, acaba se perdendo nessa barafunda partidária brasileira e não apresenta alternativa à sociedade.
Da mesma maneira o PT, o maior responsável pela crise que vivemos, acentuando a sua esclerose política, continua jogando todas as suas fichas em Lula, que por sua vez se dedica mais em se defender de uma provável condenação nos diversos processos a que responde e usa a hipotética candidatura presidencial mais como um escudo do que como um plano factível.
O PMDB, agora como protagonista, atrapalha-se nesse papel que expõe suas mazelas à luz do dia, mas consegue enredar os demais partidos nesse cenário de incertezas devido à falta de lideranças novas que consigam apontar um rumo ao país.
O que a sociedade precisa é de partidos políticos que apresentem saídas novas para a crise, e não de velhas politicagens que só farão repeti-la como farsa.
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