As famílias voltaram às compras e o aumento das vendas ao consumidor deixa ainda mais clara a recuperação da economia brasileira. Em dezembro o volume vendido no varejo restrito foi 3,3% maior que o de um ano antes. No varejo ampliado, isto é, com inclusão de veículos e componentes e também de material de construção, o total ficou 6,6% acima do anotado em dezembro de 2016. Muito mais que a variação de um mês para outro, sujeita a oscilações de curtíssimo prazo, a comparação dos dados com os números do ano anterior mostra a tendência de reativação e fortalecimento dos negócios. O recuo das vendas de novembro para dezembro – 1,5% no comércio restrito e 0,8% no ampliado – reflete claramente o efeito estatístico das promoções da Black Friday, estendidas de fato durante a maior parte do mês. A linguagem seria mais precisa, no Brasil, se a expressão usada fosse Black November. Com isso, muita gente antecipou em um mês as compras de fim de ano.
No ano, as duas séries de venda foram superiores às de 2016. No conceito restrito o aumento foi de 2%. No ampliado, de 4%. No primeiro caso, o ganho acumulado em 12 meses foi o maior desde os 2,2% registrados em dezembro de 2014. No segundo, foi o mais alto desde fevereiro também de 2014 (6,4%). Nesse ano, a crise já havia atingido brutalmente a atividade industrial, mas o emprego e o consumo só seriam arrasados pela recessão a partir de 2015.
Os novos números do comércio complementam os dados da produção industrial acumulada em 2017. O segmento de bens de consumo fabricou 3,2% mais que em 2016. O melhor desempenho foi o da indústria de bens de consumo duráveis, como veículos, móveis e produtos eletroeletrônicos, com expansão de 13,3%, em grande parte facilitada pelo aumento do crédito a pessoas físicas. Os produtores de bens semiduráveis e não duráveis tiveram ganho bem menor, de 0,9%, mas isso se explica em parte pela menor oscilação do consumo, medido em volume, de produtos essenciais, como alimentos. Ainda assim, as vendas de alguns semiduráveis e não duráveis cresceram de forma sensível no ano. Os aumentos de 7,6% no varejo de tecidos, vestuário e calçados e de 2,5% no de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria são exemplos da melhora no consumo.
No caso dos duráveis, as vendas de veículos, motos e partes foram 2,7% maiores que as de janeiro a dezembro de 2016. As de material de construção ficaram 9,2% acima das de um ano antes. Este é um resultado aparentemente estranho, porque a indústria de construção permaneceu estagnada na maior parte do ano. As vendas podem ser um sinal de reformas e obras conduzidas pelos próprios consumidores.
Para avaliar com realismo os números tanto do varejo como da indústria é preciso levar em conta a base de comparação – o ano anterior, quando o nível de atividade era ainda muito baixo e o desemprego, muito alto. Os dados aparentemente espetaculares das montadoras de veículos, com crescimento de 17,2% no volume produzido, são mais facilmente compreensíveis quando vinculados à base deprimida.
Mesmo com essa correção de perspectiva, o cenário é de modo geral positivo e estimulante. A inflação contida certamente contribuiu de forma importante para o retorno às compras. Em 2017, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 2,95% e ficou abaixo do limite inferior da margem de tolerância, de 3%. A preservação da renda real das famílias, combinada com a redução do desemprego e com a melhora de perspectiva, facilitou a retomada do consumo.
Resta um longo caminho para o retorno aos níveis de atividade anteriores à crise. No caso da indústria, a distância é mais desafiadora, porque o declínio do setor começou bem antes do mergulho do País na recessão. Se houver confiança na economia e fundamentos seguros, o percurso será mais firme e mais direto. Os fundamentos dependerão, é claro, da manutenção do programa de ajustes e da realização de reformas indispensáveis à saúde financeira do Estado e à credibilidade internacional do País.
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