Desagravo ao ministro teve adesão do governo e críticas ao Congresso
O domingo teve manifestações de rua nos 26 estados e no Distrito Federal em apoio ao ministro Sergio Moro e à força-tarefa da Lava-Jato, além de defesa de pautas do governo. Na capital federal, o ato teve a presença do ministro do GSI, Augusto Heleno, e o deputado Eduardo Bolsonaro fez discurso com críticas ao Congresso. O presidente Bolsonaro parabenizou os manifestantes e disse que respeita “todas as instituições, mas acima delas está o povo”.
DESAGRAVO
Atos têm apoio a Moro e à Lava-Jato; Bolsonaro elogia e diz que povo está ‘acima das instituições’
Bruno Abbud, Bruno Góes e Thiago Herdy / O Globo
RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA - Manifestações em defesa da Lava-Jato, do ministro da Justiça, Sergio Moro, e de pautas do governo como a reforma da Previdência e o pacote anticrime ocuparam ontem as ruas de 88 cidades em 26 estados e no Distrito Federal. Em Brasília, o ato teve adesão do governo Bolsonaro, com a presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e do filho mais novo do presidente da República, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que fez um duro discurso em defesa de Moro e com críticas ao Congresso Nacional.
À noite, o presidente Jair Bolsonaro comentou os atos. Em uma mensagem nas redes sociais, ele parabenizou os que foram às ruas e afirmou que o povo está acima das instituições:
“A mensagem de vocês é p/ TODAS as autoridades: “não parem o Brasil, combatam a corrupção, apoiem quem foi legitimamente eleito em 2018.” Respeito todas as Instituições, mas acima delas está o povo, meu patrão, a quem devo lealdade”, escreveu.
MORO AGRADECE
Nas últimas três semanas, diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e atribuídos a Moro e a procuradores da Lava-Jato alimentaram ataques dos críticos à forma de agir da força-tarefa e do então juiz. O desagravo ao ministro e à Lava-Jato foi o principal mote das faixas, cartazes (em muitos se lia “eu confio em Moro”) e palavras de ordem vistos ontem nas ruas. No segundo semestre, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar um pedido da defesa do ex-presidente Lula para declarar a suspeição de Moro nos processos em que o petista é réu.
No Rio, a concentração começou pela manhã, em Copacabana, que teve as pistas Avenida Atlântica, na orla, ocupadas pelos manifestantes num trecho de cerca de quatro quarteirões. Em São Paulo, à tarde, o ato foi na Avenida Paulista, que também teve quatro quadras ocupadas e pontos centrais de concentração em frente ao Masp e ao prédio da Fiesp.
Moro não foi às ruas, mas acompanhou as manifestações. Durante o dia, o ministro fez quatro publicações em sua conta no Twitter sobre os atos: “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço. Sempre agi com correção como juiz e agora como Ministro. Aceitei o convite para o MJSP para consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos”, escreveu, para em seguida se dizer “grato ao presidente Jair Bolsonaro e a todos que apoiam e confiam em nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais. Avançaremos com o Congresso, com as instituições e com o seu apoio”.
Nos atos anteriores de defesa da Lava-Jato e apoio a pautas governistas, em 26 de maio, o governo Bolsonaro evitou aderir explicitamente às manifestações. Naquela ocasião, o contexto político fez o governo buscar certo distanciamento dos atos, já que o ataque a instituições como o STF e o Congresso Nacional marcaram a pauta — o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi um dos mais hostilizados.
Desta vez, a adesão foi explícita. Em Brasília, Eduardo Bolsonaro e o ministro Augusto Heleno foram à manifestação e subiram no carro de som. Se o ataque ao Congresso e a membros do STF esteve presente, mas em segundo plano em relação à defesa de Moro e da Lava-Jato, o filho mais novo do presidente não economizou palavras duras contra parlamentares e o que considera “velha política”.
— Todas as vezes que esse Congresso aprontar, nós estaremos aqui. E mais do que isso: daqui a pouquinho tem eleição de novo. E a gente vai cobrar eles (sic). A renovação do Congresso foi recorde. E assim continuará sendo. E se for preciso, a gente propõe uma PEC para reduzir o número de parlamentares—discursou Eduardo Bolsonaro.
O filho do presidente chamou de “vagabundos” senadores que inquiriram Moro na Comissão de Constituição e Justiça, há duas semanas:
— Foi ridícula aquela cena de ver investigado inquirindo o Sergio Moro. Aquilo ali é o poste mijando em cachorro. A gente está aqui para dizer que nós estamos com Sérgio Moro. E aqueles vagabundos que estavam perguntando, pressionando ele, não nos representam. Quero ver se alguém vai ter moral ou coragem para barrar a Lava-Jato.
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